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Dicas do Hessel #022 | Filme de ação de arte

Confira dicas de longas com ação bem realizada

28.08.2020, às 10H58.

A noção de que filme de ação é um gênero menor não se comprova na prática. Talvez seja mais difícil coreografar e registrar uma ótima briga no cinema, num fluxo que faça sentido para o espectador e o engaje, do que planejar planos-sequências de encher os olhos num filme de guerra: é um artesanato que exige senso espacial, de ritmo, de timing, e a diferença entre a ação bem e mal filmada às vezes é definida por milissegundos.

As sete sugestões das Dicas do Hessel desta semana prestam homenagem à ação bem realizada. E se o público tem dificuldade de atentar para esses pormenores, então os filmes abaixo fazem questão de deixar isso claro: é o cinema de ação que almeja algo mais, seja o foco na plasticidade, na contemplação, nas implicações morais ou na própria ideia de discutir e ressignificar as regras do gênero.

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Motorway

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Um dos principais nomes do cinema de porradaria da China, o diretor Pou-Soi Cheang faz em Motorway basicamente um Drive sem as pretensões estilísticas e mitológicas, e de fato focado nas perseguições, coreografadas e executadas com a sensibilidade dos melhores bailarinos. Há, sim, muito estilo envolvido nessa história de um policial que precisa melhorar seu drift para vencer um bandido às do volante, mas Pou-Soi sempre coloca isso a serviço da narrativa e da tensão, e Motorway é o mais perto que Velozes e Furiosos vai chegar de uma exposição de arte.

Disponível na Netflix.

O Passageiro

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Desde 2011, quando Jaume Collet-Serra e Liam Neeson fizeram o thriller Desconhecido, o diretor e o ator repetiram a parceria ainda três vezes, cada vez mais depurando o que torna os suspenses tão envolventes. Lançado em 2018, O Passageiro é o filme mais recente dos dois e também o mais arrojado do ponto de vista formal, com experimentações de fotografia e computação gráfica que quase aproximam essa história de mistério sobre trilhos do transgressor Speed Racer e dos melhores filmes de ação e velocidade de Tony Scott.

Disponível no Telecine.

O Guerreiro Silencioso

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Dos filmes de início de carreira de Nicolas Winding Refn, talvez esse épico minimalista de 2009 seja o que melhor prenuncia as obsessões de estilo que o diretor de Drive e Demônio de Neon tomaria nos anos seguintes. O filme também impulsionou a carreira de Mads Mikkelsen, que aqui faz uma mistura de gladiador com Zatoichi escandinavo numa trama que consegue traduzir a dimensão folclórica das terras altas da Escócia, com suas paisagens acachapantes, em uma experiência de virtuose narrativa. 

Disponível no Amazon Prime Video.

A Assassina

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Principal nome da Nouvelle Vague de Taiwan nos anos 1980, ao lado do falecido Edward Yang, o cineasta Hou Hsiao-Hsien envereda pelo wuxia, o mais tradicional gênero de ação do cinema chinês, neste filme de artes marciais estrelado pela musa taiwanesa Shu Qi. Como se esperaria de Hou, ele combina as coreografias de lutas com um interesse pictórico e com um olhar para as coisas mundanas. A Assassina exige atenção e não facilita para o espectador na hora de lidar com intrigas políticas e desenlaces familiares na China do século VIII.

Disponível no Globoplay.

Haywire

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Steven Soderbergh estava no auge da sua busca por um cinema mínimo quando lançou em 2011 este filme de vingança, todo construído sob a ideia de que a lutadora Gina Carano não só poderia fazer uma ótima protagonista de um filme “sério” de pancadaria como ainda teria capacidade de humilhar Michael Fassbender, Ewan McGregor, Channing Tatum, Antonio Banderas e Michael Douglas no caminho. Ainda que Haywire pareça um capricho de autor, para Soderbergh testar e provar que pode encenar coreografia de luta com a competência dos “profissionais”, o filme o faz com tanta elegância que fica irresistível. E Gina Carano se supera invertendo a imagem do matador marrento numa chave feminista.

Disponível no Amazon Prime Video.

Grand Piano

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Antes de se consagrar em Whiplash e La La Land, Damien Chazelle já enxergava o universo musical como um território pós-capitalista de competitividade, ressentimentos e afetos mal resolvidos. A vantagem de Grand Piano - que Chazelle roteiriza e o espanhol Engenio Mira dirige - é que as crueldades estão a serviço de uma trama que não disfarça nem renega o sadismo. Toda a ideia do “Velocidade Máxima ao Piano” de Mira é justamente ser um exercício de ritmo e manutenção de suspense, o que por si só já implica num contrato franco de provocações entre o filme e o espectador.

Disponível no Amazon Prime Video.

Matança Necessária

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Para muita gente, o polonês Jerzy Skolimowski talvez seja só o russo que teve a infelicidade de cruzar o caminho de Viúva Negra no primeiro Vingadores. Quando não está atuando em blockbusters, porém, Skolimowski é um dos grandes nomes do cinema do Leste Europeu, como ele pode provar neste filme realizado na sua volta à direção, depois de quase vinte anos de hiato. Vincent Gallo vive um talibã que não cumpriu sua missão de suicida e, ao escapar de forças americanas, descobre novas implicações da violência e da morte enquanto tenta sobreviver em fuga. Skolimowski não faz pouco: ele pega um tema mais do que pontual - e ainda urgente em 2010, quando o filme foi lançado - para articular todo um discurso moral sobre a violência inerente aos filmes de ação e de guerra.

Disponível no Belas Artes à La Carte.