O Omelete completou 20 anos, e as Dicas do Hessel não poderiam deixar de aproveitar este momento para exercitar um pouco de favoritismo e ranqueamento inconsequente. Decidi pegar, a partir da oferta nos streamings brasileiros (sem contar locações), e selecionar um filme por ano neste século em que o site esteve, desde o primeiro dia, em plena operação. Na lista em três partes, esta última leva de sugestões cobre os filmes lançados entre 2014 e 2020.
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Sob a Pele
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Cresce cada vez mais, desde 2014, este estranho suspense estrelado por Scarlett Johansson, sobre invasões alienígenas e crises de empatia. O diretor inglês Jonathan Glazer, que estreou no cinema causando com o vigoroso Sexy Beast em 2000, ficou dez anos para realizar esta história de um extraterrestre que assume a forma de uma mulher e se alimenta de homens em Glasgow, na Escócia. O resultado não só bate as expectativas que eventualmente assombraram Glazer como provoca um curto-circuito de percepções, juntando tradições europeias distintas de cinema autoral, como os drama de incomunicabilidade de Antonioni e o horror folclórico tipicamente britânico.
Disponível no Amazon Prime Video.
Para o Outro Lado
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Os anos 2010 consagraram Kiyoshi Kurosawa como o principal diretor japonês de live-action em atividade. Depois de fazer carreira no cinema de horror, ele buscou uma depuração de estilo nos dramas (alguns deles ainda com elementos do sobrenatural) e os resultados frequentemente revelam as sutilezas com que Kurosawa resolve cenas brilhantemente. O luto é tema recorrente na sua obra, a exemplo deste filme de realismo fantástico de 2015, sobre uma viúva que recebe a visita de seu marido morto, e juntos visitam os últimos lugares por onde ele passou em vida. A frieza com que Kurosawa encadeia momentos de forte carga emocional, sempre apoiado em soluções invulgares de cenografia e iluminação, ilustra bem essa busca pelo drama mais essencial.
Disponível no Telecine.
As Faces de Toni Erdmann
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Falando em realismo fantástico, o final de Toni Erdmann dá margens a interpretações várias, sobre o que é "real" e o que é projeção, neste drama de 2016 que representou a Alemanha na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro. O filme de Maren Ade, sobre uma executiva de consultoria que ganha a contragosto a companhia do pai durante dias especialmente tensos de reuniões e negócios, está lidando com questões muito atuais de como a Europa enxerga o trabalho, mas seu senso de humor e a potência dos seus dramas humanos certamente falam com públicos de interesses diversos. Numa época de relações pessoais e empatia em crise, é um filme com misteriosos poderes de cura que tende a crescer também.
Disponível no Globoplay.
Fé Corrompida
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Inédito nos cinemas brasileiros, o drama de Paul Schrader estrelado por Ethan Hawke já tinha entrado em várias listas de melhores filmes de 2017 antes de chegar aos serviços de streaming daqui. Que tenha passado longe do circuito é um atestado da força implacável deste relato, sobre um padre que tem sua fé abalada numa comunidade pequena nos EUA. A obra de Schrader como diretor é bastante instável mas ele alcança aqui um filme de maturidade bastante invejável, e sua direção austera potencializa a dureza com que aborda frontalmente temas como espiritualidade e despertencimento num mundo desesperançado.
Disponível no Telecine.
Em Chamas
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Nome cada vez mais presente no circuito de festivais, o diretor sul-coreano Lee Chang-dong enfim deu em 2018 motivos para tanta atenção, depois de oito anos sem filmar. Esta adaptação de um conto de Haruki Murakami condensa em um triângulo amoroso feito de ressentimentos e afetos mal resolvidos todo um diagnóstico sobre o estado das coisas no mundo, desde questões de classe até as dúvidas que assombram a juventude, passando obrigatoriamente pelo choque diante da velocidade vertiginosa com que as paisagens e os costumes do Oriente mudam neste século.
Disponível no Belas Artes à la Carte.
Apollo 11
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Que choque assistir a este documentário em 2019, feito somentes de imagens de arquivo - muitas inéditas, como as filmagens em 70mm - do lançamento do foguete em 1969 que colocaria o homem pela primeira vez na Lua. É chocante pelo aspecto límpido, de material novo (as imagens passaram por um processo de pós-produção para aumentar a sua resolução), e pela abrangência, com registros bastante completos tanto dos arredores da base de lançamento quanto das salas de controle e do próprio interior da Apollo 11. O que mais impacta, porém, é ver esse documento único de uma época, quando os EUA tinham plena noção arquivista do que estavam realizando, e perceber como retrocedemos hoje em sonhos, em projeções para o futuro e em valorização da História com H maiúsculo.
Disponível no Telecine.
A Vastidão da Noite
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Falando em sonhos e projeção para o futuro, que surpresa foi a estreia desta ficção científica diretamente no streaming em maio de 2020. O longa de estreia do diretor Andrew Patterson, autofinanciado depois que Patterson fez uma carreira na publicidade em Oklahoma City (inclusive filmando o vencedor time da NBA da cidade, o Thunder), transpira artesanato. Se Super 8 de J.J. Abrams evoca a nostalgia do Steven Spielberg da época de E.T., Patterson está mais para o Spielberg de Contatos Imediatos de Terceiro Grau: dispensando a nostalgia e resgatando um sentimento de maravilhamento e ruptura com sua pequena história de OVNIs. É uma ficção científica B ao mesmo tempo em que conta uma história de formação juvenil e um boy meets girl transformador.
Disponível na Amazon Prime Video.