O Omelete está completando 20 anos nesta semana, e as Dicas do Hessel não poderiam deixar de aproveitar este momento para exercitar um pouco de favoritismo e ranqueamento inconsequente. Decidi pegar, a partir da oferta nos streamings brasileiros (sem contar serviços de locação), e selecionar um filme por ano neste século em que o site esteve, desde o primeiro dia, em plena operação. Será uma lista em três partes, primeiro com sugestões lançadas entre 2000 e 2006. Boas sessões e não deixe de assinar nossa newsletter para receber as dicas antes de todo mundo.
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- Dicas do Hessel #007: Uma vida iluminada
- Dicas do Hessel #008: O horror, o horror
Cowboys do Espaço
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Frequentemente subestimado na produção de carreira tardia de Clint Eastwood, por estar ensanduichado entre os suspenses políticos da segunda metade dos anos 90 e os dramas premiados do novo século, esta comédia de aventura de 2000 se insere perfeitamente na evolução temática dos filmes do diretor, ao dialogar com os mitos americanos de forma evocativa e provocante. À parte as interpretações, é impossível ignorar que Eastwood escala para viver os quatro astronautas aposentados, de volta para um último grande serviço, o equivalente ao Chicago Bulls de 1996: Tommy Lee Jones, Donald Sutherland e James Garner, além do próprio Eastwood.
Disponível no Globoplay.
Assassinato em Gosford Park
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Seria muito fácil recomendar Cidade dos Sonhos entre os lançamentos de 2001, e o filme de David Lynch não precisa que ninguém o venha defender a essa altura do campeonato. Então vamos com um filme "menor" de Robert Altman, recebido na época com certo desdém pela heresia de revisitar A Regra do Jogo de Jean Renoir. Como o público hoje está mais familiarizado com Downton Abbey (que dobra a aposta na heresia em questão), então pode ser um bom momento para voltar a este suspense sobre um assassinato misterioso cometido numa casa de campo da aristocracia britânica, no período entre guerras. Sempre elegante, mesmo quando parece displicente, Altman tenta adaptar sua verve americana ao senso de humor inglês. O argumento é de Julian Fellowes, que não por acaso seria o criador de Downton Abbey quase uma década depois.
Disponível no Telecine.
Fale com Ela
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Pedro Almodóvar virou o século em plena forma, depois da consagração com Tudo sobre Minha Mãe, o seu primeiro melodrama a deixar o nicho dos entusiastas para se tornar uma unanimidade de crítica. Três anos depois, ele fez este novo melodrama, mais ambicioso, tanto na narrativa não linear quanto nas intervenções pictóricas. Mais uma vez, a trajetória do luto cruza com a descoberta do desejo, e o universo feminino, objeto de veneração dos homens em cena, de repente parece mais hipnotizante nos mistérios que nunca deixam de se revelar.
Disponível no Telecine.
Ligado em Você
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Saiu em 2003 a obra-prima dos irmãos Peter e Bobby Farrelly. Se todo cineasta um dia precisa fazer seu filme metalinguístico, este é o dos criadores de Débi e Loide. Matt Damon e Greg Kinnear fazem gêmeos siameses que sonham em virar astros do cinema, e além da anarquia do suposto mau gosto que os Farrelly sempre promoveram, Ligado em Você especificamente traz para o próprio bastidor do cinema a crença numa ordem de mundo democrática, inclusiva e transformadora. Uma grande carta de princípios em forma de pastelão.
Disponível no Telecine.
Kung-Fusão
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Com o interesse do Ocidente renovado pelos filmes de artes marciais, depois de O Tigre e o Dragão, Matrix e Kill Bill, o ano de 2004 viu O Clã das Adagas Voadoras se tornar um fenômeno mundial. Quem realmente serviu para mostrar ao mundo, porém, uma amostra da produção chinesa do período foi esta comédia de ação dirigida e estrelada por Stephen Chow. Nome forte dos pastelões de artes marciais nos anos 90, tanto atuando como dirigindo, Chow chegou aqui ao ápice, do ponto de vista da grandiosidade da encenação - que presta homenagem à Shaw Brothers na cenografia e resgata astros do cinema de Hong Kong para "abençoar" Chow como seu herdeiro, como Yuen Wah e Bruce Leung.
Disponível na Netflix.
Cinema, Aspirinas e Urubus
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2005 foi um ótimo ano para o cinema nacional, com o baiano Cidade Baixa e o pernambucano Cinema, Aspirinas e Urubus exibidos no Festival de Cannes. O primeiro revelou a dinâmica de Lázaro Ramos e Wagner Moura ao país, e o segundo trouxe a figura de implosão introspectiva de João Miguel. É uma geração forte tanto na frente quanto atrás das câmeras, e este drama de sertão de Marcelo Gomes (muito graças à influente direção de fotografia de Mauro Pinheiro Jr.) recolocou Pernambuco no mapa, fazendo a ponte de Lírio Ferreira e Paulo Caldas a Kléber Mendonça Filho entre os nomes mais expressivos do cinema feito no Nordeste brasileiro nos últimos 25 anos.
Disponível na Netflix.
Miami Vice
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2006, por sua vez, foi um ano marcante para a transição da película para o cinema digital. De um lado, Alejandro Agresti lançava A Casa do Lago em glorioso 35mm, valorizando os tons do seu melodrama narrado com cores, e do outro lado tanto Tony Scott quanto Michael Mann testavam os limites dos espectros de luz filtrados pelas câmeras digitais de Déjà Vu e de Miami Vice, respectivamente. Muita gente vai lembrar deste remake da série de TV pelo visual canastrão de Colin Farrell, mas Miami Vice merece ser visto, revisto e estudado pelo que é na essência: uma aula de encenação e de como traduzir em elegância de câmera a latência do desejo, num filme onde toda troca (profissional, sexual, fraternal) é primeiro uma sedução.
Disponível no Telecine.