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Como Duna de 2021 deve conquistar o sucesso que versões anteriores não tiveram

Longa de Denis Villeneuve marca a terceira adaptação em live-action da obra de Frank Herbert

29.09.2021, às 19H31.
Atualizada em 29.09.2021, ÀS 19H54

Depois de quase 60 anos do lançamento do livro, Duna parece ter, enfim, uma chance real de entrar de vez para o imaginário do público. Embora já tenha ganhado live-actions no turbulento longa de David Lynch e na ótima, mas de alcance limitado, minissérie do Syfy, nenhuma de suas versões anteriores traduziu em números ou fama o legado que a obra de Frank Herbert deixou para a cultura pop. Com um orçamento de US$165 milhões (quatro vezes mais do que o longa de 1984), a nova adaptação comandada por Denis Villeneuve pode ser a primeira a estabelecer a franquia entre os grandes blockbusters de Hollywood.

Embora seja uma das obras de ficção científica mais influentes de todos os tempos, Duna nunca deu sorte nos cinemas. Além das fracassadas tentativas de Arthur P. Jacob, Alejandro Jodorowsky e Ridley Scott, o próprio longa de 1984 teve uma recepção extremamente fria da crítica e do público, então já acostumado a histórias mais ágeis como Alien - O 8º Passageiro e a Trilogia Original de Star Wars. Essa sequência de adaptações desventuradas fez com que Duna fosse rotulada como uma obra “inadaptável”.

Essa fama, no entanto, ignora que, de certa forma, o livro, ou pelo menos conceitos-chave criados por Herbert, não só foram levados às telonas, como também fizeram enorme sucesso. Ridley Scott, por exemplo, usou designs criados por HR Giger para o Duna de Jodorowsky tanto em Alien quanto em Blade Runner, e George Lucas baseou Tatooine, os Jedi, o sarlacc e até a relação de Darth Vader e Luke Skywalker na obra de 1963. O timing, no entanto, fez com que o público em geral visse o filme de Lynch como uma versão genérica de outras ficções científicas de sucesso e não uma adaptação da história que as inspirou.

Há certa frustração em lembrar o caminho tortuoso que o livro de Herbert percorreu para chegar com força ao mainstream da cultura pop, especialmente considerando quantas versões “alternativas” de Duna conquistaram o público nas últimas décadas. Mesmo a bem-recebida minissérie do Sci-Fi (atual SyFy) é esquecida por muitas pessoas, já que teve alcance limitado a assinantes de TV a cabo na época de sua transmissão original, em 2000, e só voltou a ter uma evidência real graças ao compartilhamento no YouTube e outros meios alternativos.

Em 2021, no entanto, Duna chega em um cenário completamente diferente. Em primeiro lugar, o filme será lançado com um ano de atraso ao que estava previsto originalmente. Nesse meio tempo, o longa conseguiu criar expectativas nos fãs que, seja pelo elenco estrelado ou pelas frases polêmicas de Villeneuve sobre filmes de super-herói, buscaram saber mais sobre a produção e a obra que ela adapta, dando à história de Herbert talvez sua maior visibilidade desde o cancelamento do longa de Jodorowsky. Os primeiros reflexos desta expectativa já podem ser vistos nos bons números registrados pelo filme na bilheteria mundial, que já está em cartaz em diversos territórios da Europa.

Outro fator que deve ajudar Duna a ter o alcance que a obra merece é seu lançamento simultâneo nos cinemas e na HBO Max norte-americana. Apesar das reclamações de Villeneuve, o streaming facilitará o acesso ao filme, uma vantagem que as produções passadas não tiveram. Diferentemente das adaptações de 1984 e 2000, o longa de 2021 chega em um momento em que a difusão legal e ilegal de conteúdos pela internet é quase instantânea e pode dar à nova versão da história o destaque popular que a obra de Herbert sempre mereceu.

50 anos depois da primeira tentativa de levar Duna aos cinemas, o título pode, enfim, realizar seu potencial de blockbuster, já tecnicamente comprovado por grandes sucessos de bilheteria das últimas décadas. Com os planetas mais alinhados do que nunca a Arrakis, resta agora esperar para ver se a equipe liderada por Villeneuve conseguirá espantar de vez o título de “inadaptável” carregado pela obra-prima de Herbert.