Confesso que fiquei um tanto confuso no início de A Soma de Todos os Medos (The sum of all fears, 2002 - dirigido por Phil Alden Robinson).
O filme é a quarta adaptação para o cinema dos livros de Tom Clancy centrados em Jack Ryan. No entanto, cronologicamente na literatura, trata-se da sétima aventura do fictício agente da CIA. Então, como a personagem pode estar em início de carreira no filme?
A resposta é simples. Trata-se de uma jogada dos produtores para desvincular a nova série dos filmes anteriores, protagonizados por Alec Baldwin (que viveu o herói em Caçada ao Outubro Vermelho) e Harrison Ford (Jogos patrióticos e Perigo real e imediato). Afinal, Tom Clancy já escreveu mais cinco livros de Jack Ryan e, até que suas adaptações fiquem prontas, pode preparar mais cinco se quiser. A escolha de Ben Affleck, um ator bem mais jovem para o papel, prevê justamente isso... alguém que possa interpretar a personagem por mais uma década, pelo menos. E vivam as franquias lucrativas!
Confusões à parte, A Soma de Todos os Medos me pegou de surpresa. O filme escapa de alguns (eu disse alguns) clichês do gênero e tem boa dose de tensão. Mas um acontecimento em particular levou-me a apreciar a produção mais do que imaginava. Revelá-lo estragaria metade do filme - apesar do trailer fazer isso com mestria.
Jack Ryan é um historiador e analista da CIA. Nada de glamour aqui, apenas trabalho burocrático e pesquisa. Porém, o destino reserva ao agente algo mais do que o conforto de um cubículo. Um ano antes, ele escreveu um relatório sobre um líder russo, pouco relevante na época, mas que acabou se tornando o novo presidente da Rússia. Assim, Ryan passa a ser peça-chave nas relações internacionais e, com o auxílio de William Cabot (Morgan Freeman), amigo íntimo do presidente, é escalado para um comitê estratégico formado nos mais altos escalões do governo americano. Daí até virar herói de ação são apenas vinte minutinhos...
Enquanto isso, um movimento neo-nazista organizado consegue adquirir uma bomba nuclear. Eles planejam usar o artefato para dar início a um confronto entre a Rússia e Estados Unidos. Quando as duas superpotências tiverem se aniquilado, o plano dos nazistas é tomar o poder mundial e reerguer o Reich, tudo isso sem que ninguém desconfie do seu envolvimento até o último minuto. Cabe a Ryan a solução do problema, mesmo que, para tanto, tenha que passar por cima dos trâmites burocráticos do governo.
A Soma de Todos os Medos já estava pronto antes dos atentados de 11 de setembro, e foi adiado por conter fatos absurdamente similares aos ocorridos na realidade. Apesar de chocante, talvez boa parte do interesse pelo filme venha exatamente daí. Antes, uma produção do gênero soava tão inverossímil quanto um ataque do Godzilla. Hoje, enquanto os ecos da tragédia ainda reverberam no buraco existente em pleno centro de Manhattan, parece realista até demais.