Filmes

Crítica

Abismo do Medo | Crítica

Abismo do medo

14.09.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H20

Abismo do medo
The Descent
Inglaterra, 2005
Terror - 99 min

Direção e roteiro: Neil Marshall

Elenco: Shauna Macdonald, Natalie Jackson Mendoza, Alex Reid, Saskia Mulder, MyAnna Buring, Nora-Jane Noone, Oliver Milburn, Molly Kayll

Poucos filmes de terror hoje em dia têm uma preocupação básica e fundamental para qualquer história: o desenvolvimento de seus personagens. Assim, é louvável o surgimento desse terror independente britânico Abismo do medo (The descent, 2005), que não apressa seus trunfos e constrói pacientemente as situações que culminarão nos sustos tão desejados pelos apreciadores do gênero.

A trama se inicia com um acidente traumático, no qual Sarah (Shauna McDonald) perde sua família. Indiretamente, o mesmo acidente faz com que ela perca também a amizade de Juno (Natalie Jackson Mendoza), sua melhor amiga, que não consegue segurar a barra e se afasta, não participando do processo de recuperação e deixando tal papel para Beth (Alex Reid). Porém, um ano depois, chega a hora do reencontro. As três, ao lado de outro trio de amigas (vividas por Saskia Mulder, MyAnna Buring e Nora-Jane Noone), partem para uma expedição turística a uma caverna nos apalaches estadunidenses. Todas são experientes no assunto, estão bem equipadas e estudaram o local, muito bem mapeado e bastante visitado. Porém, ao visitarem as galerias mais profundas, um desabamento acontece e as deixa presas. Segue-se então, através de reviravoltas inteligentes, um verdadeiro pesadelo e a consciência de que elas não são estão sozinhas no labirinto de cavernas.

Fica claro que o diretor inglês Neil Marshall fez sua lição de casa. As referências em seu filme são muitas, mas sutis, e vão de clássicos do terror à divulgação do longa (o pôster homenageia a obra Voluptate Mors, de Salvador Dali). Nada de cópias carbono, no entanto. O que ele faz é estudar os mecanismos do gênero e aplicá-los de forma competente em sua própria história, que brinca com alguns dos medos mais primais dos humanos, como o do escuro, de lugares fechados e, claro, do desconhecido.

O claustrofóbico projeto já começou certeiro desde a produção. Marshall optou por um recurso que poucos - e apaixonados - empregam: a gravação em ordem cronológica. Dessa forma, não se saltam cenas visando melhor aproveitamento de locações ou agendas: tudo é rodado da forma em que aparece no filme. Esperto, ele aproveitou isso também para deixar suas atrizes trabalharem juntas mais tempo, criando relações de convivência, para finalmente colocá-las frente a frente com suas criaturas. Dessa forma, ele potencializa atuações, já que os sustos são mais realistas e nenhuma das moças estava acostumada com seus colegas inumanos de set.

E elas devem ter demorado um tempão para encontrá-los... no filme, mais da metade da duração transcorre até que finalmente nós (e elas) tenhamos um visumbre dos antagonistas da história. Mais alguns minutos até que eles apareçam em close pela primeira vez. Marshall claramente saboreia esse momento, soltando-os todos num frenesi de garotas gritando, lanternas procurando foco, sangue jorrando e corpos ferozes em movimento. Aí sim, soltem-se os sustos, mesmo os mais fáceis, pois todos são merecidos!

Nota do Crítico
Ótimo