Uma criança aparentemente comum que, de repente, se vê diante de uma criatura fantástica e decide ajudá-la a voltar para casa. A premissa de Abominável lembra E.T.: O Extraterrestre e não é pouco - até mesmo o icônico gesto do personagem-título encontra espaço na animação em uma versão adaptada, distante do universo dos alienígenas. Afinal, no filme da diretora Jill Culton, o extraordinário não está em um ser de outro planeta, mas sim em um yeti.
Everest, como a jovem protagonista Yi o chama, não corresponde exatamente ao estereótipo do chamado “Abominável Homem das Neves”. Embora seja enorme e tenha uma boca avantajada, ele não é lá muito assustador. Pelo contrário. Com a notável similaridade com o Banguela, de Como Treinar o Seu Dragão, o yeti é bem fofo e carismático. Essa personalidade, aliada ao seu surpreendente poder de controlar a natureza, cria momentos encantadores na animação e dá um pouco mais de coração à história que, infelizmente, tem um quê de genérica.
Diferentemente de outros projetos da DreamWorks, falta a Abominável a coragem de ser mais ousado, inclusive visualmente. Ainda que as cenas em que Everest usa sua magia sejam mais caprichadas, o design dos personagens e dos cenários não têm muita textura, nem nada de muito memorável. Mesmo assim, as escolhas estéticas às vezes tímidas são o menor dos problemas. Em última instância, o filme tem um roteiro fraco.
Além da história por si só ser pouco original, as viradas vêm do nada, sustentadas em diálogos explicativos sem muita ligação com o que estava sendo narrado até então. Basta observar a trajetória de um dos vilões, o megalomaníaco Burnish, que vai de um protótipo de Cruella de Vil a defensor dos animais em questão de um flashback. Mas o que esperar de uma produção que faz a escolha óbvia de colocar “Fix You”, do Coldplay, no momento mais emocionante da trama?
O que mantém a narrativa interessante é realmente a amizade inusitada entre Everest e o grupo de jovens humanos liderado por Yi. O humor infantil e gracioso desta relação cria uma dinâmica divertida e ameniza a falta de inspiração em alguns momentos da aventura. Ainda assim, fica a impressão de potencial desperdiçado em Abominável. Ele é bom, mas poderia ser melhor.