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A Caça | Crítica

Dignidade em meio à histeria coletiva

19.10.2012, às 11H03.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

O dinamarquês Thomas Vinterberg (Submarino, Querida Wendy), um dos criadores do movimento Dogma 95, retorna ao tema de seu primeiro filme, Festa de Família (1998) em A Caça (Jagen, 2012).

A Caça

A Caça

É o melhor filme do diretor desde seu elogiado debute e, apesar da palavra "pedófilo" estar presente em ambas as sinopses, o tema é tratado de forma muito diferente 14 anos depois. Vinterberg deixa de lado o humor negro satírico do original para realizar um filme sutil, centrado e emocionalmente contido.

Na trama, um professor de jardim da infância (Mads Mikkelsen) é adorado pela população da pequena cidade em que vive. Participa dos grupos de caça (uma tradição local), é apoiado durante seu divórcio e tem amigos leais. Mas quando Klara (Annika Wedderkopp), uma menina de 8 anos, filha de seu melhor amigo, confunde seus sentimentos pelo professor e tenta beijar-lhe, o homem pacientemente explica que isso só se faz entre "mamães e papais" e que ela deveria dar atenção aos meninos de sua idade. Mas Klara, confusa, resolve repetir à diretora da escolinha uma frase que ouviu dos irmãos - algo que coloca a cidade inteira contra o professor, que é acusado gravamente de ter abusado sexualmente da menininha.

A edição primorosa não deixa um grama sequer de gordura no filme, que conta com a belíssima fotografia de Charlotte Bruus Cristensen (mais quente no início e menos acolhedora quando as coisas começam a degringolar). Vinterberg, sabiamente, evita todos os clichês possíveis desse tipo de filme, concentrando sua história nos espaços vazios, em que pouco acontece, favorecendo a introspecção, a sutileza e valorizando a catarse. E Mikkelsen, melhor ator em Cannes pelo papel, tem aqui também seu melhor trabalho - enchendo a tela com uma presença poderosa, que irradia dignidade e descrença pelo que está acontecendo (como os bons episódios de Além da Imaginação, em que o chão desaparece sob os pés dos protagonistas).

Ao final, quando toda a concentração enfim dá lugar aos sentimentos represados, A Caça simplesmente explode em uma espécie de crítica social que não demoniza ninguém e nunca dá lugar ao fatalismo que acometeu alguns dos filmes anteriores de Vinterberg. A cena derradeira é o único ponto negativo de todo o filme, que já havia sido bem resolvido, mas parece ter sido uma pequena concessão do diretor ao grande público - um lembrete de que quando a histeria se estabelece, nem toda a história é escrita pelos vencedores.

Nota do Crítico
Regular