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A Casa dos Sonhos | Crítica

Por um cinema ruim sem medo de ser feliz!

03.11.2011, às 20H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H34

O problema de Hollywood hoje em dia é que a maioria dos seus filmes ruins são ruins por omissão. Não se comprometem com nada, só reproduzem cenas isoladas de impacto para um público que, supostamente, funciona com lampejos de atenção. É como se fossem pequenos filmes dentro de um longa-metragem, e nenhum deles tem muito a dizer ou mesmo a narrar.

a casa dos sonhos

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Por isso que um filme como A Casa dos Sonhos (Dream House) pode ser tão fascinante. O trabalho do diretor irlandês Jim Sheridan (Terra de Sonhos, Entre Irmãos) - que não gostou do resultado e pleiteou ao sindicato de diretores de Hollywood a remoção de seu nome dos créditos, mas teve o pedido negado - está decididamente comprometido em ser ruim do começo ao fim. É um suspense que pode ser acusado de tudo, menos de omissão.

Na trama, Daniel Craig interpreta um executivo bem-sucedido da área editorial que larga o emprego em Nova York e se muda, com a esposa (Rachel Weisz) e as duas filhas, para uma linda casa numa cidadezinha do Estado de Connecticut. No entanto, não demora para que eles descubram que sua casa foi cenário do assassinato de uma mãe e seus filhos, provavelmente mortos pelas mãos do marido, que sobreviveu.

À primeira vista, A Casa dos Sonhos é só um derivado de todo tipo de terror com casas antigas que escondem segredos, mas a coisa vai bem mais longe. Os sinais de que há alguma coisa errada (não só com a casa) aparecem logo no início, na maneira como Sheridan filma a família. Quando as crianças percebem um perigo no jardim, por exemplo, a câmera não mostra o exterior da casa, e sim permanece nos close-ups da família. Da mesma forma, quando Daniel Craig interage com outros personagens, como os polícias no bar, Sheridan pega o ator por espelhos para mantê-lo sempre à vista, mesmo nos contraplanos. Por que é tão importante ver a reação deles ao que está acontecendo ao redor?

As respostas não demoram a aparecer... A partir daqui, é impossível falar de A Casa dos Sonhos sem incorrer em spoilers. É um filme com duas grandes reviravoltas. A primeira, que acontece logo na metade e está presente no trailer, é até certo ponto previsível (por tudo aquilo exposto no parágrafo acima). Já a segunda, aí sim, dá pra ser considerada uma surpresa de fato. Este texto vai discutir, abaixo, apenas a primeira reviravolta - tentando não entregá-la de vez.

Digamos que o título do filme é bastante literal. Alucinação e realidade se misturam ao mesmo tempo em que Sheridan tenta dar às situações mais implausíveis uma justificativa plausível, o que só torna mais tocante esse esforço de A Casa dos Sonhos de se levar muito a sério. O roteiro de David Loucka não é meramente uma cópia de O Amigo Oculto e A Ilha do Medo - é uma cópia que se julga original, que projeta em si uma imagem de gravidade, de importância ("vamos entrar na mente desse personagem atormentado e entendê-la!"). É um filme que não tem medo do ridículo, acima de tudo, porque não sabe identificá-lo.

E isso potencializa a comicidade de cenas como aquela em que Daniel Craig "acorda" (ah, o velho truque do nome formado por números) e aparece com cabelos diferentes o tempo todo, e dá outra dimensão a imagens captadas antes e depois das brigas na produção, durante os reshoots (como Naomi Watts botocada num instante e "normal" logo depois). Em alguns momentos, parece que o filme será interrompido e abandonado para todo o sempre, como aqueles esquetes do Monty Python que terminam na metade, de estafa, soterrados por um acúmulo de absurdos que não permite saída.

A imagem final, com Daniel Craig carregando o corpo pra fora da casa como se fosse um saco de batatas (ah, o romantismo dos marombeiros), sacramenta o bendito fracasso de A Casa dos Sonhos, um filme que deve ter sido um pesadelo no seu friorento set (pelo menos serviu para aproximar os hoje casados Craig e Rachel Weisz) mas lava a alma de quem estava se decepcionando até com o nível de ruindade de Hollywood.

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Nota do Crítico
Ruim