Ralph Fiennes em Conclave (Reprodução)

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Crítica

Conclave transforma eleição do papa em um fantástico thriller de espionagem

Ralph Fiennes brilha como cardeal dividido entre articulação política e o futuro do Vaticano

10.09.2024, às 11H21.

Representamos um ideal, mas ainda somos homens comuns”. É assim que um dos cardeais de Conclave tenta se justificar em determinado momento do novo filme de Edward Berger, vencedor do Oscar por Nada de Novo no Front.

O trabalho meticuloso do diretor na recriação da tensão e da tragédia da guerra, em seu filme anterior, volta a dar as caras na nova produção, estrelada por Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow e Isabella Rossellini. O conclave - a reunião dos cardeais para a eleição de um novo papa -, por si só, já cria curiosidade suficiente para justificar uma história como essa. A partir da morte do líder religioso (ou em caso mais recente da abdicação), o Vaticano prepara um grande evento, com importantes nomes que comandam as arquidioceses do mundo todo, digno da eleição e posse de qualquer chefe de estado. 

O diretor constrói então essa história, adaptada de um livro de Robert Harris, como um grande suspense - e, já na primeira cena, pega o espectador pelo braço e o coloca ajoelhado ao lado da cama do pontífice morto. O tema, com um violino alto e marcante, dá a urgência para as discussões nos corredores e nas buscas por evidências. A morte repentina do papa, o segredo de seu último encontro com um dos líderes da Igreja e a chegada de um estranho cardeal mexicano, vindo do Afeganistão, envelopam o filme como um thriller de espionagem política. No meio disso tudo, temos o religioso interpretado por Ralph Fiennes, o responsável por organizar a votação, que tem que lidar com as disputas entre os concorrentes enquanto trabalha nos bastidores pelo seu favorito.

Berger e a diretora de fotografia Stéphane Fontaine criam um espetáculo com as imagens das grandes construções do Vaticano, salas pouco iluminadas e corredores luxuosos, que acabam parecendo mais um bunker de guerra. A câmera, parada em vários momentos, nos faz analisar cada pedaço da tela, buscando detalhes que possam mostrar o futuro dessa votação ou preencher nossa curiosidade sobre um dos estados mais poderosos do mundo e seus edifícios sagrados.

Ralph Fiennes deverá estar no Oscar e nas premiações de 2025 por sua atuação como o Cardeal Lawrence. É fantástica a criação do personagem que a todo momento afirma não querer ser papa, mas sempre acaba nas conversas dos companheiros ou recebendo votos durante as rodadas do conclave. A ansiedade de Lawrence e suas dúvidas sobre o próprio papel diante do futuro da Igreja dão margem para o ator brilhar tanto em momentos mais intimistas - mas não menos “perigosos” -, quanto nos momentos em que precisa explodir para renegar o fardo que parece se aproximar cada vez mais dele. 

Ainda que pareça perder o controle mais para o final da história, com uma cena de ação até surpreendente, Edward Berger ainda prepara uma reviravolta que poucos vão esperar e deve ser uma das mais discutidas quando o filme estrear. Foi exatamente assim na saída da exibição no Festival de Toronto, onde o filme gerou reações de espanto e risadas nervosas durante a exibição.

Conclave acha espaço para discussões atuais que a escolha do líder de uma potência com mais de 1.3 bilhão de seguidores sempre deveria exigir. É uma missão tão grande quanto salvar o mundo de um conflito nuclear ou desmantelar o assassinato de um presidente, e Berger entende isso ao fazer um dos grandes filmes do ano - e um thriller, no mínimo, sensacional.

Nota do Crítico
Excelente!