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Crítica

Crítica: Astro Boy

Adaptação hollywoodiana de clássico japonês é um amálgama genérico

21.01.2010, às 18H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H57

Ozamu Tezuka (1928 - 1989) é o maior nome dos quadrinhos japoneses. Basicamente, foi ele, sozinho, o criador das bases para a estética dos mangás - algo que o universo pop do mundo inteiro conhece e consome até hoje. Astro Boy (Tetsuwan Atomu) é uma de suas maiores criações. O pequeno e gentil andróide, publicado continuamente na revista Shonen Magazine de 1952 até 1968, fez história ao inverter a tendência da ficção científica da época: os robôs, em geral, eram robustas máquinas de destruição.

Astro Boy

Astro Boy

A série deu origem a um dos primeiros desenhos animados da TV japonesa, exibido no Japão de 1963 a 1966. Também gerou um longa-metragem de animação para o cinema (1964) e uma segunda série de TV na década de oitenta, além de numerosas versões live-action. Inspirou até uma imitação, curiosamente criada pelo próprio Tezuka, Jetter Mars, desenho exibido no Brasil como O Menino Biônico.

Astro Boy é, portanto, um importante ícone cultural e legado japonês, ainda que Tezuka não escondesse suas influências ocidentais, como os desenhos de Walt Disney e Max Fleischer. Essas inspirações, porém, eram mais estéticas e técnicas do que narrativas. Tezuka tinha um jeito todo particular de contar suas histórias que, não raro, envolvia uma dose de crueldade e realismo mesmo nos temas mais infantis. Em Astro Boy, por exemplo, o robozinho, criado pelo cientista Doutor Tenma para substituir o filho morto em um acidente, é abandonado por seu criador quando esse percebe que o construto jamais poderá suprir sua carência. Astro é então vendido a um cruel dono de circo, até ser, enfim, adotado por outro cientista, que o recebe como um filho.

Assim, não é surpresa alguma que a versão estadunidense de Astro Boy transforme a história em algo mais palatável ao que se acredita que seja o gosto do grande público hoje. Astro não é vendido, mas desativado com tristeza. Personagens ganham chances de redenção - exceto, claro, os caricatos vilões - e alívios cômicos surgem aos montes (o trio de andróides marxistas é até engraçado). Outra deturpação visando saídas fáceis é a energia que dá força ao robô. Originalmente nuclear, o combustível aqui é convertido em uma força quase sobrenatural - extraída de um meteoro e manipulada em duas vertentes, a do "bem" e a do "mal". Tudo bem que energia nuclear não é um tema exatamente da moda, mas a opção pelas coloridas bolotas energizantes do filme é preguiçosa e maniqueista.

Apesar de manter algumas das características de design da criação de Tezuka, o filme de David Bowers (Por Água Abaixo) é um amálgama genérico de animações como Wall-E e Gigante de Ferro misturado com um sem-fim de mensagens: ética política, entendimento entre os povos, distribuição de renda, ecologia... a lista é simplesmente longa - e chata - demais. Em seu desespero por relevância, a adaptação atira para todos os lados - feito o próprio Astro Boy, que tem metralhadoras até no traseiro.

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Nota do Crítico
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