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Crítica

Crítica: Criação

Drama sobre Charles Darwin tem muito sentimentalismo e pouca evolução

18.03.2010, às 18H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 11H03

Por envolver o autor da Teoria da Evolução, assunto considerado tabu na metade puritana e convervadora dos Estados Unidos, Criação (Creation) não obteve um circuito exibidor sequer razoável por lá. Uma vez na vida, pelo menos, devo concordar em parte com os fanáticos... o filme não merecia mesmo o espaço. Porém, nossas razões para achar isso não poderiam ser mais distintas.

Criação

Criação

A direita cristã ataca o filme pela obra retratar a vida de Charles Darwin, escritor do livro A Origem das Espécies, que contestou a Teoria Criacionista. Bobagem. A produção é muito mais um drama preocupado com a vida privada e os dilemas pessoais do cientista que um libelo contra o mito das maçãs, costelas e ofídios dissimulados.

Se por um lado isso é interessante - o filme não toma muito partido -, por outro a figura de Darwin, que certamente renderia uma história poderosa com suas viagens exploratórias a bordo do Beagle, acaba reduzida ao seu momento de maior fragilidade. Abalado pela perda da filha mais velha (e favorita), Darwin passa seus dias se lamentando, sem forças para escrever e relembrando a menina, com quem tem diálogos imaginários o tempo todo.

O drama melhora nos momentos em que deixa o lar alquebrado e inclui outras figuras históricas, como Thomas Huxley (Toby Jones), que incita o colega cientista a terminar a obra que "matará deus". Mas o foco do roteiro de John Collee, adaptado do livro Annie's Box, de Randal Keynes, é mesmo outro. Não por acaso, o autor do romance é trineto de Darwin... daí o foco familiar.

O vai e vem das visões da menininha e a reticência de Darwin impedem a parte realmente interessante da história de ser desvendada. Temos vislumbres de seu trabalho o tempo todo, mas isso jamais é desenvolvido, apesar do interesse que despertam. Histórias igualmente pobres, como a da orantogango que até ganha destaque no pôster, também cansam.

Há certa elegância formal nas escolhas cinematográficas do diretor Jon Amiel, especialmente na sóbria fotografia de Jess Hall. As transições dos tempos narrativos (ainda que eles sejam dispensáveis) são realizadas de maneira interessante e o elenco está muito bem. Paul Bettany e Jennifer Connelly, casados na vida real, vivem Darwin e sua esposa. Ela tem pouco destaque como a mulher religiosa e atua com a segurança habitual, mas Bettany se entrega ao papel com convicção emocionante. Pena que o tom equivocado, repleto de sentimentalismo barato - que cena final lamentável... - do filme, não tenha contribuído para a "evolução" de coisa alguma.

Assista ao trailer

Nota do Crítico
Bom