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Crítica

Crítica: Moscou, Bélgica

Filme veste a estética do naturalismo mas entrega típica história água com açúcar de autoajuda

23.09.2010, às 18H00.
Atualizada em 01.12.2016, ÀS 03H06

Quem sente carência de produções europeias mas não abre mão das facilidades das historinhas edificantes hollywoodianas tem em Moscou, Bélgica (Moscow, Belgium) mais uma oportunidade de exercitar esse tipo particular de cinefilia. A embalagem é toda "artística" para embrulhar o enlatado de sempre.

moscou, belgica

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A começar pelo título, o clichê das tiradinhas geográficas, que remete a Paris, Texas e quase sempre serve para falar de personagens que estão zonzos à procura de seu lugar. Moscou é o nome de um bairro proletário e periférico de Ghent, na Bélgica, cidade onde nasceu o estreante diretor do filme, Christophe van Rompaey. Cenário perfeito para tipos desamparados, como Matty (Barbara Sarafian), mãe quarentona de três filhos que está vendo seu marido sair de casa para namorar uma garota com metade de sua idade.

Van Rompaey acompanha Matty e os filhos no supermercado, no começo do filme, com aquela urgência característica dos filmes naturalistas: há muito movimento dentro do quadro mas a atriz está sempre no centro, seja de frente ou de costas, e a câmera na mão e os close-ups constantes em Matty já deixam claro o transtorno existencial da personagem. O passo seguinte é o diálogo com carga de simbolismo: no estacionamento, um caminhoneiro bate no carro de Matty e ela se desespera porque "estava no ponto cego" do motorista.

Matty já vive no ponto cego das pessoas há algum tempo, é o que quer dizer Van Rompaey, e Moscou, Bélgica inicialmente parece que fará um tocante retrato da vida de uma mãe de família solteira, com um olhar sensível para os detalhes que a câmera (dentro dessa linha naturalista) conseguir captar. Não é o que acontece em seguida. A estética suja sugere esse realismo, mas as situações são excessivamente dramatizadas - e banalizadas.

Quando surge o marido de Matty para pegar as crianças, e numa primeira fala ele já solta que Matty "não tem mais idade para isso", dispara a sirene: diálogos funcionais, escritos para repetir uma condição que já estamos presenciando, são um mau sintoma. E rapidamente Moscou, Bélgica elimina qualquer dúvida quando adere definitivamente à autoajuda água com açúcar: de repente os homens sensíveis e também os brutos estão lutando por Matty, tem até cena de príncipe ajoelhado com o sapatinho da donzela nas mãos.

O que interessa a Van Rompaey, no fim, não é dar vida a Matty, tentar entender e dividir com ela angústias da meia-idade, mas pintar um cenário de contos de fada que sirva para inflar a autoestima da personagem - e da espectadora de moral baixo. Moscou, Bélgica vai encontrar um público cativo nessa faixa dos 40 anos, até aí nada mais justo. O problema é vender-se como uma coisa e entregar outra.

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Nota do Crítico
Regular