As veias inchadas nos músculos artificialmente mantidos de Sylvester Stallone desenham um mapa de intenções de Os Mercenários (The Expendables, 2010), seu novo filme. Como as plásticas que começam a ficar exageradamente repuxadas no rosto do grande astro, o filme busca, um quarto de século depois do auge do gênero, resgatar a juventude do cinema de ação.
Os Mercenários
Os Mercenários
Os Mercenários
Stallone, como já havia feito em Rambo IV e Rocky Balboa, coroteiriza, dirige e protagoniza o filme. O comando criativo é extremamente benéfico para o que Os Mercenários propõe, afinal, ninguém entende melhor a ação descerebrada como ele. Em pouco mais de 100 minutos, um exército inteiro é metralhado, centenas de explosões são detonadas, mocinhas são honradas, conspirações são desbaratadas e um sem-fim de combates mano-a-mano são lutados.
Para tanto, Stallone conta com um verdadeiro quem-é-quem desse tipo de produção. Aos conhecidos Dolph Lundgren, Mickey Rourke, Eric Roberts, Jason Statham e Jet Li (com direito a participação especial de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis) juntam-se, na melhor tradição do gênero de contratar atletas em nome do realismo, Randy Couture (campeão de MMA), Gary Daniels (campeão de kickboxing) e Steve Austin (astro da luta-livre).
Mas muito mais que um desfile de veteranos, a produção traz ainda um checklist de clichês oitentistas. Líder do narcotráfico? Ditador de país latino? Garota durona em perigo? Missão contra todas as chances? Está tudo lá, bem amarradinho e sem qualquer pretensão senão a de voltar a uma época mais simples no cinema.
Na trama, o grupo de "soldados da fortuna" de Barney Ross (Stallone) é contratado pelo misterioso Sr. Church (Willis) para infiltrar-se em uma ilha latina e assassinar seu ditador (David Zayas, de Dexter). Chegando lá, eles conhecem a rebelde Sandra (Giselle Itié) e descobrem a verdadeira natureza do problema. Mas quando eles enfim escapam da ilha, Sandra prefere ficar e lutar - o que desperta em Barney um sentimento de redenção que ele desconhecia.
Mas ao mesmo tempo que se entende a explosiva nostalgia de Stallone (quem não quer trabalhar no que faz melhor e gosta?), Os Mercenários não deixa de parecer datado e simplista. Dá pra se divertir na hora com o pastiche e desfrutar, amortecido, o balé pra macho das coreografias marciais, mas não sobra muita coisa para a memória além das discussões de bastidor.
Em tempos de realismo no cinema, Nu Image/Millennium contra O2, a impressão de Stallone dos brasileiros e até a prefeitura de Mangaratiba, no Rio de Janeiro (onde parte das filmagens aconteceram), querendo homenagear o astro construindo uma estátua (torço por um macaco no ombro) rendem muito mais discussão sobre o filme, que se esgota antes de chegar ao elevador do shopping, que seus méritos cinematográficos.