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Crítica

De Volta ao Jogo | Crítica

O mantra da violência sem violência

27.11.2014, às 09H53.
Atualizada em 19.04.2020, ÀS 16H55

De Volta ao Jogo (John Wick, 2014) é um filme plenamente consciente dos muitos clichês de histórias de vingança e de matadores aposentados que recicla. É um sub-Drive não só na repetição de temas e de tons de neon mas também nesse suposto instinto de cinefilia que tenta resgatar os heróis americanos motorizados, da tradição de Steve McQueen.

Keanu Reeves é John Wick, ex-assassino da máfia russa que é forçado a voltar "ao jogo" quando o filho mimado do chefão rouba o carro vintage de John Wick e mata o filhote de cachorro que John Wick acabara de ganhar de sua falecida esposa. O jovem vilão não sabia quem era John Wick quando cometeu essas atrocidades, nem o espectador, mas os personagens passam a repetir tanto o nome JOHN WICK ao longo do filme, com aquela gravidade de quem fala da segunda vinda de Cristo, que certamente John Wick não será esquecido tão cedo.

É como um mantra, afinal, que o diretor estreante Chad Stahelski não só repete o nome do personagem como também reproduz os mais variados lugares-comuns do gênero - na esperança de que, na repetição, esse cinema e esse seu herói mítico ganharão vida em De Volta ao Jogo. Stahelski foi dublê a vida inteira, inclusive como o Neo de Keanu Reeves em Matrix, e talvez venha daí essa sua crença numa rotina multiplicada até a perfeição.

O que Stahelski não considera é a potencial cafonice de um filme como esse - com seu clube privê de assassinos de aluguel que à primeira vista poderia bem ser um clube de swing -, e se tivesse assistido a MacGruber o diretor talvez percebesse como De Volta ao Jogo se presta muito mais à paródia do que a um suspense de vendetta sério.

Interessado mais na coreografia de sua luta homem a homem com relâmpagos ao fundo, e nos seus muitos tiroteios, De Volta ao Jogo é incapaz de enxergar as implicações das coisas que recicla. Flerta com a sátira, ao tratar esse mundo de violência como um simulacro (o hotel, as moedas, os carrões), mas termina alienando-a.

Nesse sentido, De Volta ao Jogo não é muito diferente do cinemão de hoje, com seu fetiche de uma violência que seja extrema mas que não deixe marcas, uma violência normatizada ("Os vizinhos estão reclamando do barulho, Sr. John Wick"). Até mesmo Nicolas Winding Refn entenderia a responsabilidade moral de botar mais um ou outro hematoma na cara de Keanu Reeves depois de tanta pancadaria.

Nota do Crítico
Ruim