Dois Papas/Netflix/Divulgação

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Crítica

Dois Papas

Fernando Meirelles comanda Jonathan Pryce e Anthony Hopkins em conversa que vai além da religião

14.09.2019, às 19H14.
Atualizada em 04.02.2020, ÀS 10H55

Há líderes religiosos cuja importância supera os limites das suas respectivas doutrinas. É assim com o Dalai-lama, é assim com o Papa. Com a morte de João Paulo II, porém, a Igreja Católica perdeu uma das suas figuras mais populares. Seu substituto, Bento XVI, foi eleito pelos cardeais que buscavam o retorno de valores mais conservadores. Ironicamente, foi o próprio Papa que percebeu o erro dessa estratégia e, entre os escândalos de uma igreja que perdia fiéis e acobertou casos de pedofilia, decidiu renunciar. Mas antes era preciso encontrar um substituto. 

Desse processo pouco usual, o roteirista Anthony McCarten estabelece os diálogos de Dois Papas, filme dirigido por Fernando Meirelles e estrelado por Jonathan Pryce (Papa Francisco) e Anthony Hopkins (Papa Bento) sobre as conversas que levaram a eleição do cardeal progressista argentino Jorge Mario Bergoglio ao posto máximo da igreja. 

As diferentes visões de Bento e Francisco sobre variados assuntos — da doutrina católica a futebol — tornam o filme cativante, mesmo para quem não é religioso. Os dois não concordam em nada, mas encontram uma via de respeito, um belo exemplo no atual contexto. Pryce e Hopkins tornam a experiência ainda mais interessante, encontrando o tom para equilibrar senso de humor com a seriedade dos assuntos tratados, sempre entre a santidade dos seus cargos e o mundano. Uma pena que problemas graves, como a negligência em relação às denúncias de pedofilia, não cheguem a ser aprofundados, deixando o tom geral mais leve e pitoresco.

Atrapalha também as escolhas da fotografia de César Charlone, parceiro de longa data de Meirelles, que muda de lentes, câmeras e ângulos constantemente. A ideia, parece, é reproduzir o imediatismo midiático que acompanha a nomeação papal. Porém, quando se está no meio de uma conversa fascinante, a escolha se torna um incômodo. 

Ainda assim, essa estética tira do filme o épico que a trama poderia impor. Dois Papas trata dos ritos milenares de uma religião, mas não se limita ao universo católico apostólico romano. O que a igreja distância por pompa e tradição, o filme aproxima por revelar o óbvio. Mesmo que o Papa não seja pop, ele é apenas humano.

Nota do Crítico
Bom