Filmes

Crítica

Entrevista Andrew Stanton, diretor de Wall-E

Ele é um dos fundadores da Pixar e esteve naquele almoço de onde saíram outros clássicos da casa

09.04.2008, às 13H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H35

Nossa amiga Marcela Tavares, que trabalha no parceiro Último Segundo, foi até Emeryville, nos Estados Unidos. É lá que fica a sede da Pixar e foi lá que ela conversou com Andrew Stanton, um dos fundadores da empresa e diretor do ainda inédito Wall-E. Veja abaixo como foi:

Wall-e

Como nasceu a idéia para Wall-E?

Wall-E foi uma das idéias que surgiram no agora famoso almoço em que estavávamos Joe Ranft, John Lasseter, Pete Docter e eu. Toy Story estava quase pronto e percebemos que teríamos chance de fazer outros desenhos. Nesse mesmo dia nasceram as idéias que deram origem a Vida de Inseto, Monstros S.A. e Procurando Nemo. Dentre elas, Wall-E era o único que não passava de um personagem, que não tinha uma história.

Como ele era na primeira concepção?

A idéia que discutimos era de um robô sozinho na Terra e que não sabia que podia parar de fazer o trabalho para o qual foi programado. E se ele não falar, como R2D2?

Quando você começou a trabalhar em Wall-E?

Prazos são sempre cruéis para escritores e eu tinha que fazer os últimos ajustes no roteiro de Procurando Nemo, mas qualquer coisa me distraía disso. Daí estava ouvindo uma trilha sonora que acho que era de Jerry Goldsmith, que tinha um tom de aventura, e comecei a escrever a primeira parte de Wall-E.

O tema do acúmulo de lixo no planeta está bem em voga atualmente. O quanto isso influenciou na historia?

Eu não sou político, não tenho a intenção de fazer nenhum tipo de manifesto ambientalista com Wall-E. Eu precisava de uma atividade muito básica para Wall-E, e também de um motivo para ele estar sozinho na Terra, e daí pensei em lixo. A ficção científica, que é o gênero que queremos explorar no filme, sempre tem um aspecto apocalíptico para ambientar as interações humanas que retrata. E, finalmente, me apaixonei pela idéia de um robô que se importa mais com a vida do que os humanos.

E de onde veio a idéia de colocar os humanos em um cruzeiro espacial?

Achei interessante a idéia de um cruzeiro. Hoje vivemos em uma época que as pessoas podem se isolar com seus telefones, iPods, que contam com que suas compras podem ser entregues em casa sem que elas tenham muito trabalho. Daí para mim um cruzeiro seria um cenário ideal para mostrar o quanto elas não querem mais saber das pequenas coisas da vida.

O desenvolvimento de novas tecnologias é um incentivo para a criação de um filme?

O que me impressionou quando cheguei na Pixar foi que tínhamos idéias que não poderiam ser feitas naquele momento e dai desenvolvíamos a tecnologia. Ela é um produto secundário, não pensamos em que tecnologia queremos criar, mas sim no que queremos fazer e daí como tornar isso realidade.

Por que usar "Aquarela do Brasil" no trailer de Wall-E?

Sou fã de Terry Gillian, e isso foi uma forma de homenagear Brazil - O Filme. Além disso, achei a música apropriada porque ela é divertida, mas ao mesmo tempo rítmica e mecânica, tem um tom de George Orwell, o que combina com o filme. Finalmente, gosto desse contraste do velho com o novo, com a idéia de você ver um filme de robôs que andam ao som de Louis Armstrong, isso faz o filme ficar diferente.

Por que vocês escolheram Alô Dolly como o filme favorito de Wall-E?

Como disse, gosto do contraste do novo com o velho, e Alô Dolly foi um dos musicais que participei quanto tomava aulas de teatro no colégio. E a música "Out There" caiu perfeitamente para a primeira seqüência do filme. E o tema de amor era perfeito para embalar a história que eu queria contar. Wall-E é curioso em relação às musicas dos humanos, mas ninguém disse que ele tem bom gosto musical!

Em quais desenhos você buscou inspiração para Wall-E?

Eu não costumo ver animações para me inspirar porque prefiro buscar referências em outras coisas, outros meios. Gosto de ver filmes que passam as emoções que quero transmitir, com cenas do que quero mostrar.

A tecnologia de hoje permite que a Pixar lance mais de um filme por ano. Vocês pensam em fazer isso?

Não temos a pretensão de lançar um monte de filmes por vez, até porque isso tira um pouco da graça do trabalho que fazemos. Chegamos a esse ritmo de um filme por ano e ele é ideal para nós. E também sim, as coisas podem estar mais fáceis agora, mas não nos contentamos em fazer a mesma coisa, queremos sempre mais novidades, mais avanços em nosso trabalho.

Você tem um desenho favorito da Pixar?

Escolher entre eles é como escolher o filho favorito, não dá. Mas tenho um carinho especial por Toy Story, porque nada se compara à sensação de fazer uma coisa pela primeira vez.

O fato de Wall-E não ter diálogos te causa alguma apreensão em relação a como o filme vai ser aceito?

Não acho que o filme não tem diálogos, eles simplesmente não são tradicionais. Eu sempre fico tenso ao lançar um filme porque você nunca sabe como as pessoas vão reagir, não tem como prever isso. Então, no mínimo, eu tiro conforto da satisfação que tenho em ter conseguido terminar o meu trabalho como o visualizei, fico feliz em ver que consegui passar as emoções que queria.

Como foi trabalhar com Ben Burtt na criação das vozes e sons de Wall-E?

Desde cedo pensei em ter Burtt na equipe porque ele com certeza iria saber o que fazer com Wall-E e Eve. Eu não tinha a menor idéia do que pedir, não imaginava nada daquilo e ele fez todo aquele trabalho fantástico.

Wall-E estréia mundialmente em 27 de junho.

Confira a cobertura completa do Último Segundo

Nota do Crítico
Bom