Responda rápido: quantos filmes de terror dirigidos por mulheres você já viu na vida? Aqui no Brasil, a tendência aumentou nos últimos anos, com nomes como Juliana Dutra (As Boas Maneiras) e Gabriela Amaral Almeida (Animal Cordial).
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No Reino Unido, uma jovem diretora do País de Gales lançou nesta sexta (5) no Festival de Berlim seu primeiro longa de terror. Prano Bailey-Bond, 29 anos, apresentou Censor, história de uma censora na Inglaterra dos anos 1980 responsável por cortar dos filmes cenas mais violentas de decapitação, mutilação e banhos de sangue. A época não foi escolhida por acaso: em 1985, o país debateu fortemente a influência de filmes violentos sobre a juventude, com base em alguns crimes reais. O discurso pela censura dos filmes partia da primeira-ministra Margaret Thatcher, conhecida por seu conservadorismo.
Enid (Niamh Algar), a censora, faz muito bem o seu trabalho de cortar filmes, mas guarda um trauma: sua irmã desapareceu misteriosamente perto de uma cabana na floresta quando elas eram crianças, e ela guarda uma forte culpa pelo fato até hoje. Um dia, quando vai avaliar um filme, Enid se depara com a história do desaparecimento da irmã na tela, com um homem gigante e monstruoso que a teria sequestrado. Ela também fica com a certeza que uma das atrizes do filme, adulta, é sua irmã. Ela parte então à procura do diretor do filme. Mergulhando na loucura, a própria vida de Enid vai pouco a pouco virando um grande filme de terror sanguinolento.
Censor tem bons momentos, com os atores falando num ritmo mais lento nas cenas de delírio, como num filme de David Lynch. Os filmes de terror que Enid aluga na locadora e vão dominando sua cabeça também nos fazem sentir saudades do clássico Poltergeist (1982). Mas a produção das cenas lembra mais os filmes do Zé do Caixão. Essa atmosfera de filme B (ou C) até parece ser mesmo a proposta, mas o fôlego da história poderia ir bem mais longe.
Niamh Algar, atriz irlandesa que vem despontando em várias séries de TV no Reino Unido, segura bem a protagonista, mas ainda falta a Bailey-Bond uma ousadia maior nos seus surtos de sangue e violência, como bem fazia um Dario Argento (do Suspiria original, de 1977).
Censor ainda não tem previsão de estreia nos cinemas ou em plataformas de streaming.