Goosebumps é o tipo de obra na qual você leva susto quando é criança e dá risada quando é adulto - falo com a propriedade de causa de quem tinha medo de assistir a saudosa adaptação para a TV dos livros e, ao relembrar isso agora, tem vergonha de si mesmo. É nesse espírito de terror pueril que Goosebumps - Monstros e Arrepios mira, e com isso se torna um filme raro de se ver nos dias de hoje.
O resultado, claro, tinha de ser esse se o longa quisesse ser fiel às raízes da série de best-sellers criada por R.L. Stine, descritas pelo próprio autor como “assustadora, mas também engraçada”. Para homenagear a carreira e a obra do escritor, o longa mescla situações conhecidas dos livros com uma larga dose de metalinguagem.
Seguindo um arquétipo típico das histórias do escritor, o protagonista é um jovem que acabou de se mudar para uma nova cidade, o irônico adolescente Zach (Dylan Minnettte). Logo de cara, ele se dá bem com a vizinha, Hannah (Odeya Rush), que não consegue passar cinco minutos longe de casa sem ser reprimida pelo misterioso pai controlador (Jack Black, cuja clássica persona excêntrica se encaixa de forma assustadora nesse estereótipo).
Eventualmente, descobre-se que o pai de Hannah é ninguém menos do que o próprio R.L. Stine, o criador da série Goosebumps, e que toda a paranoia tem motivo: a família guarda consigo todos os manuscritos que, se abertos, libertam os terríveis monstros surgidos da imaginação do escritor. É claro que todos eles escapam e cabe a ao grupo, que ainda ganha o reforço do atrapalhado Champ (Ryan Lee), colocá-los de volta no reino da ficção.
A trama é a melhor desculpa para que entrem em cena as principais atrações do filme: os monstros bolados por Stine. O roteiro esperto de Darren Lemke, Scott Alexander e Larry Karaszewski consegue não apenas encaixar, num filme só, criaturas que vão do “convencional” (lobisomens, zumbis) ao bizarro (gafanhotos gigantes, anões de jardim e poodles assassinos), como ganham sentido dentro da trama - todos obedecem a Slappy, o boneco que, de certa forma, guarda o lado sombrio da personalidade de Stine (e, por isso, também é dublado por Jack Black).
Enquanto os monstros tocam o terror, em um exagero de cenas de ação esperado para um blockbuster, ainda há espaço para o crescimento pessoal dos protagonistas e algumas reviravoltas previsíveis, mas que não atrapalham a diversão. Evocando um espírito de filme vespertino da TV nos anos 1990, o longa usa o terror como base para entreter e dar risada.