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Hahaha | Crítica

Amor de bêbado não tem dono

27.12.2012, às 20H46.
Atualizada em 23.11.2016, ÀS 23H08

Não deixa de ser irônico que os críticos de Hong Sang-soo digam que o cineasta sul-coreano anda se repetindo, uma vez que são exatamente as sutilezas das repetições - de personagens, situações e comportamentos - que cada vez mais interessam ao diretor de Mulher na Praia (2006).

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De Hong, por exemplo, sempre pode-se esperar histórias de porres no bar seguidos de remorsos amorosos - frequentemente à beira-mar e protagonizados por diretores de cinema frustrados e estudantes de arte idealistas - e em nenhum de seus filmes (mesmo em The Day He Arrives, que é basicamente um Dia da Marmota bêbado) bebe-se mais do que em Hahaha (2010).

Na trama, dois amigos se reencontram conversar, e beber. Eles contam, um ao outro, como foram os dias que passaram em uma cidade de veraneio, seus desencontros amorosos e as pessoas que conheceram por lá. As coincidências movem a maioria das repetições de Hong, e só os dois personagens não percebem que estão falando das mesmas pessoas...

Por ser uma narrativa em flashback, o espectador já sabe que os dois não se encontraram na cidade, mas ainda assim ficamos na expectativa de que eles se cruzem, nem que seja de costas na saída do bar, ou sejam mencionados numa conversa com outros, e nesse passo de comédia de acasos Hahaha transcorre.

Não é preciso conhecer as variedades etílicas do soju para se identificar com esses deslocamentos, que têm parentesco distante com os amores frustrados de Woody Allen e com os filmes-contos de Éric Rohmer - dois cineastas que também recorrem aos desencontros para efeito de melancolia. Particularmente, Hong trabalha essas pequenas coincidências para mostrar como modulamos nosso comportamento em ambientes distintos para causar diferentes impressões - e a repetição encenada desses hábitos revela o que eles têm de patético.

Não faltam no cinema personagens em busca de si mesmos. Já os adultos de Hong Sang-soo são o oposto, estão sempre à procura do outro, para validar no amor do outro a imagem turva que fazem de si mesmos. É uma procura miserável, evidentemente (e que em Noite e Dia, ao contrário de Hahaha, termina de forma violenta até). Daí os porres e o recomeço continuado dessa busca, que tende a não ter fim.

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Nota do Crítico
Ótimo