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Quem for ao cinema para ver um filme sobre um filhote fofo de pingüim vai ter uma surpresa. Happy Feet - O Pingüim (2006) é isso, e muito mais. A tal ave do filme é só uma boa desculpa para uma história que ensina crianças (e adultos) uma importante lição sobre ecologia e outra contra a discriminação.
No melhor estilo A marcha dos pingüins, a animação mostra o curioso sistema de namoro e incubação destas aves que nadam, mas não voam. Para quem não viu o premiado documentário francês, os pingüins possuem cantos que são únicos. Inicialmente, eles servem para atrair o cônjuge. Depois, quando a fêmea sai para pescar e deixa o macho chocando o ovo, é o timbre da voz que vai ajudar os casais a se acharem novamente, mesmo no meio de centenas de outros pares. Na animação, eles chamam isso de canção do coração. E o problema do Mano (Elijah Wood), o protagonista da história, é que ele não sabe cantar. E quando tenta, causa mais arrepios do que arranhar a lousa com a unha. Seu negócio é outro. Ele é bom mesmo é com os pés! Ninguém consegue sapatear como ele!
Sua mãe, Norma Jean (Nicole Kidman), não vê problema algum nisso. Já o pai, Mênfis (Hugh Jackman), acha um absurdo ter um filho daquele jeito. E assim pensam também os demais habitantes da colônia dos pingüins imperadores - aqueles com a penugem meio alaranjada na área do peito - incluindo aí o Ancião (Hugo Weaving). Sim, estamos falando aqui de um caso de discriminação e que pode servir para qualquer situação - desde a homossexualidade até a diferença de raças.
Infeliz com tudo isso, Mano sai dali. E no meio dos pingüins Adelie ele vai fazer amizade com um grupo bem mais divertido, que não se preocupa muito com o status da cantoria. Declaradamente inspirados nos latinos, os adelies são festeiros e adoram os passos do Mano. Ramon (Robin Williams) e seus amigos decidem ajudar o desafinado amigo a conquistar o coração da amada Glória (Britanny Murphy) e o respeito dos demais pingüins. Porém, o plano não sai muito bem como planejado e ele se joga em uma aventura ainda maior, que o coloca em contato com outros animais, inclusive o temido Homo sapiens.
E é nesse ponto que a história ganha um clima completamente diferente. Sai a tradicional trama de superação, amadurecimento e redenção para se mostrar o que os humanos estão fazendo com o mundo. Um plástico que não é corretamente jogado no lixo pode matar animais na sua rua ou do outro lado do mundo.
Mas tudo acontece rápido demais e esta reviravolta parece perdida no meio daquela história, que até então era bastante infantil. Mas a mudança ganha algum sentido quando se sabe que o diretor e roteirista aqui é George Miller, que tem no currículo Mad Max e Babe, dois filmes completamente diferentes e que provam a enorme versatilidade do cineasta australiano - quer você goste dela, ou não.
E é com esta fórmula maluca, que soma animação computadorizada de alta qualidade, humor, eco-avisos e números musicais à la Moulin Rouge (misturando músicas antigas com atuais em novas roupagens e usando tudo isso para ajudar a contar a história), que Happy Feet surpreendeu, e com a ajuda de um certo menino-bruxo inglês deixou para trás Cassino Royale, a nova aventura do agente 007, nas bilheterias estaunidenses.
Em alguns momentos, seus 98 minutos podem parecer mais longos que uma viagem à Antártida, mas o visual e dois pingüins dublados por Robbin Williams valem qualquer esforço.