Muito se fala sobre o estilo cruel com que Alfred Hitchcock tratava seus atores nos sets de filmagens, principalmente as mulheres. Sua predileção por escalar algumas das mais belas e famosas atrizes daqueles dias, como Grace Kelly, Ingrid Bergman e Janet Leigh, sempre geraram especulações sobre um certo sadismo que ele gostava de infringir às mulheres que ele nunca teria. O seu fascínio por elas é um dos temas abordados no longa-metragem Hitchcock (2012), que se passa durante a produção de uma de suas obras-primas, Psicose (1960).
Hitchcock
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Interpretado por um irreconhecível Anthony Hopkins cheio de prostéticos que o deixam em muitas cenas idêntico ao cineasta britânico, Alfred Hitchcock começa o filme em crise. Deitado na banheira ele lê uma crítica dizendo que seu último filme, Intriga Internacional (1959), mostrava que ele deveria pensar na sua aposentadoria. Foi um golpe duro, que acertou em cheio os brios do diretor. Sem um próximo projeto em mente, ele começa a buscar à sua volta algo que prove ao mundo que ele ainda tinha outras histórias para contar antes de pendurar a claquete.
O filme dirigido pelo estreante Sacha Gervasi, ficcionaliza de forma bastante inteligente e divertida tudo o que aconteceu deste momento até o lançamento de Psicose, que não apenas reergueu a carreira do diretor, como é, até hoje, uma de suas obras mais famosas. E este humor todo poderia deixar os fãs mais ardorosos de Hitchcock desgostosos, pois mostra o lado mais caricato do mestre do suspense, muito pinçado do personagem que ele criou de si mesmo para a sua série de TV Alfred Hitchcock Presents. Mas para estes mesmos fãs, há escondidas ali no meio inúmeras referências a outros filmes, de maneirismos a frases de outros clássicos seus.
No melhor estilo hitchcockiano de escolher atrizes, o longa tem as lindas Scarlett Johansson e Jessica Biel fazendo os papéis de Janet Leigh e Vera Miles. As relações do cineasta com elas mostram o rancor que ele guardava de Vera Miles, que o deixou na mão às vésperas do início das filmagens de Um Corpo que Cai, quando descobriu que estava grávida. Ele não entendia como ela preferiu ser mãe a virar uma estrela de Hollywood em suas mãos. Já no caso de Janet Leigh, Gervasi e o roteirista John J. McLaughlin preferiram "aumentar um pouco os fatos" em prol da história, dramatizando a famosa cena do chuveiro, que a própria atriz diz ter sido "tranquila" de filmar. Procure também a participação especial de Ralph Macchio, o "Karatê Kid".
Hitchcock se baseia no livro Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose (Ed. Intrínseca), de Stephen Rebello, mas não tenta ser um filme documental, que mostra passo a passo o que aconteceu atrás das câmeras. E toda esta liberdade criativa é bem-vinda, pois dá a Gervasi espaço para mostrar também o Hitchcock safado, o romântico (ao seu jeito), aquele que tratava bem seus atores, o que gostava de tomar seu uísque, o que tinha pavor da dieta, o que dialogava com seus personagens a ponto de se confundir com eles e dizer em voz alta que "todo ser humano é um psicopata em potencial".
Voltando a falar da mítica em torno do diretor, é preciso falar do MacGuffin, termo que ele criou para explicar aquilo que motiva seus personagens. Basicamente, é o que faz a história andar. Ele próprio, Hitchcock, é o MacGuffin desta sua cinebiografia, criada, na verdade, para mostrar a importância de sua esposa, Alma Reville. Graças à belíssima atuação de Helen Mirren, Alma finalmente ganha reconhecimento na posição de pilar que sustentava todos estes Hitchcocks que não eram vistos pelos espectadores, ávidos apenas pelo próximo susto. E isso não é pouca coisa pois, como um outro personagem diz durante o filme: "Como todo grande artista, é impossível conviver com Alfred Hitchcock, mas vale toda a pena do mundo".
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