Até o ano de 2000, o filme do Homem-Aranha equivalia a sinônimo de boataria, desentendimentos e brigas judiciais. Era até muito improvável que a produção chegasse às telas nos anos seguintes. Para complicar ainda mais, havia uma infinidade de nomes prováveis cotados para elenco, direção e roteiro. Só uma coisa era certa: a incerteza.
Com tantos empecilhos, a aventura cinematográfica do mais tradicional herói da Marvel Comics estava fadada a ser engavetada. Como numa de suas HQs, o Escalador de Paredes foi salvo na última hora pela intervenção espetacular dos X-Men... ou melhor... pelo interesse do público no filme dos mutantes dirigido por Bryan Singer. O sucesso da película serviu para jogar, na cara letárgica de Hollywood, o potencial deste filão.
Devidamente conscientes do que tinham em mão, os estúdios desembaraçaram todos os nós jurídicos e, em poucos meses, a Columbia Pictures detinha os direitos da produção. Poucos dias após a estréia de X-Men (2000) nos Estados Unidos, Tobey Maguire foi anunciado como o ator que daria vida a Peter Parker, e o cultuado Sam Raimi foi citado com o diretor.
A partir de então, passo a passo, os trâmites da filmagem puderam ser acompanhados aqui mesmo no Omelete. É que a estréia do nosso site coincidiu com o anúncio da Columbia. Foram mais dois anos de rumores, imagens de bastidores, adiamentos, o fatídico primeiro teaser (aquele das torres gêmeas) e muita, mas muita expectativa. Os meses de espera, no entanto, não foram em vão. Eles culminaram na melhor - e digo isso sem exagero - adaptação de uma HQ para os cinemas.
Empatia
Homem-Aranha divide-se em dois momentos bastante distintos: os últimos dias de Peter Parker no colegial e sua ida - já dominando suas novas habilidades - para Manhattan, Nova York. Cada um deles tem seus méritos. No entanto, o primeiro é que cativa a audiência. Nele está toda a essência dos gibis. O nerd Peter Parker, confortavelmente interpretado por Tobey Maguire, é picado por uma aranha geneticamente modificada e sofre uma alteração em seu DNA. Presto! Tal qual nos quadrinhos, o rapaz adquire os poderes e habilidades proporcionais aos de um aracnídeo. E, em momento algum, nós duvidamos disso.
Sua primeira reação é a mais normal possível: descobrir como lucrar com seus novos dons e, de quebra, impressionar sua vizinha Mary Jane Watson (Kirsten Dunst, perfeita). Eu não faria diferente; você provavelmente também não. Imperfeito que sou, se fosse abençoado com poderes Jedis, cairia para o lado negro em... digamos... 15 minutos. No entanto, o caminho mais sedutor está longe de ser o mais recompensador. Escolhe-lo resulta em conseqüências trágicas e dramáticas. Peter aprende, a duras penas, que com grande poderes vêm grandes responsabilidades.
Combate ao crime
Depois da amarga lição de vida, Parker assume a identidade do Homem-Aranha e entrega-se ao combate ao crime. Entretanto, criminosos comuns são apenas um aperitivo antes da verdadeira prova de fogo: o confronto com seu nêmesis, o Duende Verde. Na verdade, trata-se do poderoso Norman Osborn (Willem Dafoe), um industrial que testa em si mesmo sua fórmula para criar supersoldados. O experimento transforma-o física e mentalmente.
Esta segunda parte do filme, apesar de não ser tão envolvente quanto a primeira, é de tirar o fôlego. Visualmente, não tem pra ninguém. São de longe os melhores combates de super-herói que a tecnologia atual poderia engendrar. É emocionante ver saltarem para a realidade cenas corriqueiras nos quadrinhos, mas, até alguns anos atrás, impensáveis no cinema. Mesmo que o tempo traga outras ainda mais impactantes, dificilmente elas vão superar a indescritível sensação de se ver, pela primeira vez, um gibi ganhando vida. Se você for fã de quadrinhos, prepare-se para ficar em estado de graça. Há dezenas de passagens da existência do herói, incluindo muitas das mais relevantes para sua carreira.
Qualidade de execução
Além da boa história - notadamente uma analogia às mudanças da puberdade, com direito a secreções indesejáveis e crescimento de pêlos -, Homem-Aranha tem méritos disseminados por vários de seus aspectos quer sejam efeitos especiais, direção ou elenco.
Desde seus dias de Evil Dead - A morte do demônio (Evil Dead, 1982), Sam Raimi é adepto dos movimentos e ângulos estilosos de câmera. Em Homem-Aranha, suas preferências caíram como uma luva, concedendo verossimilhança e graça ao Aracnídeo em suas acrobacias pelos desfiladeiros de concreto de Nova York.
Enfim, Spider-Man tem todos os ingredientes de um entretenimento de qualidade: ação, humor, aventura, pancadaria... e uma sexy ruivinha com a camiseta molhada.
O que mais você poderia desejar? :-)
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