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Herói | Crítica

<i>Herói</i>

24.03.2005, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 22H06

Herói
Ying xiong

China, 2002
Drama/Épico - 96 min.

Direção: Zhang Yimou
Roteiro: Zhang Yimou, Li Feng, Wang Bin

Elenco: Jet Li, Tony Leung Chiu-Wai, Maggie Cheung Man-Yuk, Zhang Ziyi, Chen Dao Ming, Donnie Yen

Se você pensou que já tinha visto tudo que era possível sobre artes marciais em O Tigre e O Dragão (Wo hu cang long, de Ang Lee, 2000), prepare-se! Herói (Ying xiong, 2002), de Zhang Yimou, eleva os filmes orientais sobre guerreiros ao patamar de obra de arte com seqüências de tirar o fôlego.

Herói é uma história mítica baseada em fatos históricos. Na China ancestral, antes do surgimento do primeiro imperador, a nação se dividia em sete reinos. Qin, o soberano da província do norte, sofre constantes ameaças e tentativas de assassinato e o que mais o preocupa são três assassinos de elite contratados por seus adversários políticos. Certo dia, um dos magistrados de seu reino entra no palácio carregando as armas dos assassinos, afirmando ter derrotado os três em combate.

Jet Li retorna às suas raízes de Hong Kong no papel de um espadachim claramente inspirado em Yojimbo (de Akira Kurosawa, 1961). O ator interpreta o guerreiro sem nome que conseguiu a façanha de matar os assassinos Espada Quebrada (Tony Leung Chiu Wai), Céu (Donnie Yen) e Neve Voadora (Maggie Cheung). O rei havia prometiado riquezas jamais imaginadas para aquele que conseguisse tal proeza. E assim, o vitorioso soldado começa a narrar suas batalhas, que são mostradas na tela em flashback. A cada nova história, o guerreiro sem nome ganha o direito de se aproximar um pouco mais do soberano, que - suspeitando dos relatos - confronta as histórias que está ouvindo a outras versões que lhe foram contadas.

Para cada nova variante descrita, o diretor criou um banquete para os olhos. Esteticamente as cenas são obras-primas. A câmera registra uma riqueza de detalhes nunca vista em produções similares. As locações são espetaculares. Toda a ação se desenvolve em lagos, montanhas, florestas e desertos. Em cada um desses lugares o vento, a água, o sol, as folhas e as árvores participam da ação. Tudo isso é combinado com os belos figurinos e trilha sonora. Do começo ao final, Herói é um quadro em movimento e as cenas de luta, um espetáculo de balé com espadas.

Não pense que a história é apenas sobre luta. O roteiro de Zhang Yimou é a união perfeita de sensibilidade e ação. Todos os elementos shakespearianos estão lá. Traição, mentira, honra, amor e sacrifício convivem harmoniosamente com as artes marciais.

Yimou faz sua estréia neste gênero de filmes que ele acompanha desde sua adolescência. Histórias sobre os Wuxia são bastante comuns na China. Wu significa artes marciais e Xia seria o equivalente a um cavaleiro errante. Mas ao contrário dos cavaleiros que estamos acostumados, o Wuxia têm o espírito livre. Seus valores estão concentrados em honra, lealdade e justiça. A partir do século 18, as histórias dos Wuxia ficaram extremamente populares criando-se assim lendas e feitos extraordinários. Estes mitos também servem de inspiração no ocidente. George Lucas criou seus Cavaleiros Jedi espelhando-os nesta cultura.

Um tema constante das novelas Wuxia é a superação de suas habilidades por meio da concentração, a repressão de seus sentimentos e muito estudo. Fazendo isso o guerreiro consegue transcender tudo. Existem dois estilos: Wudan (que usa a força interior) e o Shaolin (que usa a força exterior). Ao contrário do que se pode imaginar, as técnicas não são opostas e é do perfeito equilíbrio de ambas que uma pessoa tira a sua verdadeira força. Assim como Herói.

Nota do Crítico
Excelente!