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Madrugada dos Mortos | Crítica

<i>Madrugada dos mortos</i>

22.04.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

Madrugada dos mortos
Dawn of the dead
EUA, 2004
Ação/Terror - 97 min.

Direção: Zack Snyder
Roteiro: George A. Romero (original de 68), James Gunn


Elenco: Sarah Polley, Ving Rhames, Jake Weber, Mekhi Phifer, Ty Burrell, Michael Kelly, Kevin Zegers, Michael Barry, Lindy Booth

Na segunda metade da década de 60, o cineasta nova-iorquino George A. Romero iniciou a sua Trilogia dos Mortos, série de filmes formada por A noite dos mortos-vivos (Night of the Living Dead, 1968), O despertar dos mortos (Dawn of the Dead, 1978) e O dia dos mortos (Day of the dead, 1985).

O primeiro filme, produção independente rodada em branco e preto com apenas 100 mil dólares, foi um sucesso instantâneo. A fita transcedeu a barreira dos Filmes B e transformou-se num clássico do cinema de terror pela inventiva visão de Romero sobre o gênero - sempre preocupado com a reação emocional das pessoas envolvidas com os fatos sobrenaturais que propunha.

Depois de A noite dos mortos-vivos, Romero fez alguns novos filmes, mas não atingiu o patamar do seu debute, que chegou até mesmo a ser adicionado ao acervo da National Film Registry (orgão estadunidense dedicado à preservação do patrimônio cinematográfico do país). Assim, concentrou-se em O despertar dos mortos, uma continuação que superou o original em bilheteria e foi recentemente eleita um dos filmes mais cultuados de todos os tempos pela Entertainment Weekly. O sucesso é merecido. Por trás do filme de terror, a história explora as emoções exacerbadas que afloram em situações de dificuldade e confinamento, bem como a cultura do consumo e o capitalismo.

O capítulo final da trilogia não teve o mesmo sucesso. Apesar de bastante interessante, O dia dos mortos foi mal recebido pela crítica e teve uma bilheteria fraca. Começava aí o declínio da carreira de Romero, que passou a produzir pouco e não conseguia evitar que seus filmes fossem lançados direto em vídeo. Mesmo a refilmagem de A noite dos mortos-vivos, produzida em 1990 e dirigida por Tom Savini, acabou sendo um fracasso de bilheteria. Hollywood deixava assim um dos maiores mestres do terror de molho por alguns anos...

Ressuscitando o morto-vivo

Felizmente, com o lançamento e o enorme sucesso financeiro de Extermínio (28 days later, de Danny Boyle, 2002) - claramente baseado na obra de Romero -, a Meca do cinema lembrou-se do homem que criou praticamente sozinho o gênero e as regras do "filme de morto-vivo". Bastou que os dólares começassem a entrar nos cofres da Fox com a produção britânica para que a Universal corresse para encomendar uma refilmagem de O despertar dos mortos.

A produção, intitulada Madrugada dos mortos (Dawn of the Dead, 2004) por aqui, começou certa desde a concepção. Para a adaptação e modernização do texto de Romero o estúdio chamou James Gunn (Scooby-Doo), que tem em seu currículo trabalhos para a Troma, a aclamada produtora de filmes trash de baixíssimo orçamento. Para assumir a direção, o estúdio trouxe o estreante em longas-metragens Zack Snyder. Egresso do mercado publicitário e dos videoclipes, o diretor conseguiu revestir o clássico de altas doses de suspense e aplicar um visual moderníssimo, que mistura a estética MTV com o visual dos videogames. Entre uma mordida de zumbi e outra, o filme ganhou também excelentes sacadas de humor.

Em Madrugada dos mortos elementos foram incorporados à trama de 68 e uma das regras básicas do universo de Romero foi completamente deturpada - agora os defuntos reanimados são ágeis como os infectados de Extermínio -, mas a essência do trabalho original permanece. O único aspecto que sofre na refilmagem é mesmo o discurso social sobre o consumo, totalmente amenizado em favor da ação (e da bilheteria).

O filme tem início com Ana (Sarah Polley), uma enfermeira simpática que vai pra casa descansar após um exaustivo turno no hospital em que trabalha. Chegando no seu lar, conforta-se com o marido e a filha e dorme tranqüila, ignorando os "plantões do Jornal Nacional" que teimam em pipocar na TV que o esposo zapeia. No meio da noite, a filhinha do casal entra no quarto. Seu rosto está mordido, sem lábios. Desesperada, Ana age rapidamente para cuidar da menina, apenas para vê-la atacar e morder o pai com ferocidade incrível. Começa o pesadelo de Ana, que é obrigada a fugir por uma cidade tomada pela loucura: mortos comem os vivos que ressuscitam famintos num ciclo inexplicável.

A enfermeira acaba encontrando outros humanos ainda intocados pela praga - que sabiamente não tem qualquer tentativa de explicação científica, filosófica ou místico-religiosa no filme. Assim, ruma ao lado de Kenneth (Ving Rhames), Michael (Jake Weber), Andre (Mekhi Phifer) e a grávida Luda (Inna Korobkina), até o local que julgam mais seguro: um shopping center de alto padrão no alto de uma colina. Lá o grupo encontra alguns guardas de segurança e inicia uma desesperada tentativa de sobrevivência enquanto lentamente é sitiado por milhares de cadáveres famintos.

O resultado é promissor. O filme teve uma ótima bilheteria nos Estados Unidos, algo bastante empolgante para os fãs de Romero. Fora da toca, o cineasta já andou tecendo alguns comentários sobre uma possível nova aventura da sua série clássica e está atualmente dirigindo Diamond Dead, uma comédia de humor negro com toques de musical. Nela, todos os integrantes de um grupo de rock dos anos 80 morrem... apenas para voltarem à vida como zumbis rock´n´roll. É isso aí! O Rei do Mortos está de volta! :-)

Nota do Crítico
Bom