Filmes

Crítica

O Amigo Oculto | Crítica

<i>O amigo oculto</i>

25.02.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H17

O amigo oculto
Hide and seek
EUA -
2005 - 101 min.
Suspense / Drama

Direção: John Polson
Roteiro: Ari Schlossberg

Elenco: Robert De Niro, Dakota Fanning, Famke Janssen, Elisabeth Shue, Amy Irving, Dylan Baker, Melissa Leo, Robert John Burke, Molly Grant Kallins

Dono de alguns dos maiores clássicos do passado em seu currículo - Taxi Driver, Poderoso Chefão II, Era uma vez na América, Touro indomável, etc., etc., etc... - Robert De Niro não emplaca um filme realmente bom há quase uma década.

Porém, apesar da escolha equivocada de papéis, o astro continua apresentando boas atuações em quase tudo o que faz. E é bom mesmo que o faça, pois ao aceitar filmes vergonhosos como Amigo oculto (Hide & Seek, 2005) ele precisa mostrar à indústria que continua um bom ator, do contrário, sua carreira tão bem construída desmoronaria em pouco tempo.

Neste suspense, De Niro vive o psiquiatra David Callaway, um viúvo recente que decide deixar para trás as lembranças da esposa e vai viver no campo, numa pequena cidade do interior do estado de Nova York. Ao seu lado, vai a sua filhinha Emily (Dakota Fanning), traumatizada depois de presenciar o suicídio da mãe. A mudança, no entanto, não é bem aceita pela amiga de David, a também psiquiatra Katherine (Famke Janssen), que acredita que a menina devia ficar em seu ambiente normal e enfrentar os sentimentos decorrentes da perda. Obviamente, ela estava certa, ou não haveria filme.

Ao chegarem à nova casa, Emily começa a agir de maneira estranha e seu pai descobre que ela criou um colega imaginário para brincar. Charlie, o amigo oculto do título brasileiro, inicialmente parece inofensivo, mas suas brincadeiras começam a ficar cada vez mais assustadoras quando David faz amizade com uma linda mulher da cidade (Elisabeth Shue). Assim, não tarda para que os jogos comecem a envolver sangue e ameaças, para o descontrole do pai da menina, que começa a desconfiar se Charlie é mesmo imaginário ou se existe alguém - ou alguma coisa - na vida de Emily.

Com a premissa acima, cabe a De Niro, ao lado da estrela mirim Fanning (Chamas da vingança, Uma lição de amor), a missão de segurar a fita. Ambos conseguem até certo ponto, mas salvar o roteiro está além de seu talento. O início é promissor, o clima de tensão criado pelo diretor John Polson (Fixação) é crescente e bastante competente. Dá até pra achar que o filme é bom. Mas aí entra uma das mais irritantes manias do cinema de suspense na atualidade: a reviravolta.

Pode conferir... quase todos os suspense de hoje em dia estão se utilizando do artifício da revelação final inesperada como uma forma de vender o filme. A própria Fox reiterou isso ao distribuir Amigo imaginário nos Estados Unidos sem o último rolo (leia aqui). Assim, não importa se o começo é bom contanto que o final seja bombástico.

O culpado recente dessa moda é o indiano M. Night Shyamalan, que deixou todo mundo boquiaberto em 1999 e fez com que cada um dos produtores de Hollywood ficassem perseguindo exaustivamente o próximo Sexto Sentido. O que ninguém parece entender é que as tais reviravoltas já existem desde o Expressionismo Alemão (O gabinete do dr. Caligari, de 1919, tem uma reviravolta excepcional) e ganharam força 20 anos depois com Alfred Hitchcock, que batizou a ferramenta como whodunit (quem é o culpado?). A diferença é que os bons filmes do gênero vêm acompanhados de uma história competente, na qual o desfecho é o grand finale e não mera desculpa para sua existência.

E se o final sofrível de Amigo oculto, algo que qualquer fãs do gênero consegue adivinhar lá pela metade do filme, é a grande desculpa para a existência do filme, pra que assisti-lo?

Talvez só para dar risada com a última cena, que joga a última pá de cal sobre o filme na desesperada tentativa de deixar um gancho - outra mania que empesteia o cinema - para uma possível continuação.

Nota do Crítico
Regular