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Dono de alguns dos maiores clássicos do passado em seu currículo - Taxi Driver, Poderoso Chefão II, Era uma vez na América, Touro indomável, etc., etc., etc... - Robert De Niro não emplaca um filme realmente bom há quase uma década.
Porém, apesar da escolha equivocada de papéis, o astro continua apresentando boas atuações em quase tudo o que faz. E é bom mesmo que o faça, pois ao aceitar filmes vergonhosos como Amigo oculto (Hide & Seek, 2005) ele precisa mostrar à indústria que continua um bom ator, do contrário, sua carreira tão bem construída desmoronaria em pouco tempo.
Neste suspense, De Niro vive o psiquiatra David Callaway, um viúvo recente que decide deixar para trás as lembranças da esposa e vai viver no campo, numa pequena cidade do interior do estado de Nova York. Ao seu lado, vai a sua filhinha Emily (Dakota Fanning), traumatizada depois de presenciar o suicídio da mãe. A mudança, no entanto, não é bem aceita pela amiga de David, a também psiquiatra Katherine (Famke Janssen), que acredita que a menina devia ficar em seu ambiente normal e enfrentar os sentimentos decorrentes da perda. Obviamente, ela estava certa, ou não haveria filme.
Ao chegarem à nova casa, Emily começa a agir de maneira estranha e seu pai descobre que ela criou um colega imaginário para brincar. Charlie, o amigo oculto do título brasileiro, inicialmente parece inofensivo, mas suas brincadeiras começam a ficar cada vez mais assustadoras quando David faz amizade com uma linda mulher da cidade (Elisabeth Shue). Assim, não tarda para que os jogos comecem a envolver sangue e ameaças, para o descontrole do pai da menina, que começa a desconfiar se Charlie é mesmo imaginário ou se existe alguém - ou alguma coisa - na vida de Emily.
Com a premissa acima, cabe a De Niro, ao lado da estrela mirim Fanning (Chamas da vingança, Uma lição de amor), a missão de segurar a fita. Ambos conseguem até certo ponto, mas salvar o roteiro está além de seu talento. O início é promissor, o clima de tensão criado pelo diretor John Polson (Fixação) é crescente e bastante competente. Dá até pra achar que o filme é bom. Mas aí entra uma das mais irritantes manias do cinema de suspense na atualidade: a reviravolta.
Pode conferir... quase todos os suspense de hoje em dia estão se utilizando do artifício da revelação final inesperada como uma forma de vender o filme. A própria Fox reiterou isso ao distribuir Amigo imaginário nos Estados Unidos sem o último rolo (leia aqui). Assim, não importa se o começo é bom contanto que o final seja bombástico.
O culpado recente dessa moda é o indiano M. Night Shyamalan, que deixou todo mundo boquiaberto em 1999 e fez com que cada um dos produtores de Hollywood ficassem perseguindo exaustivamente o próximo Sexto Sentido. O que ninguém parece entender é que as tais reviravoltas já existem desde o Expressionismo Alemão (O gabinete do dr. Caligari, de 1919, tem uma reviravolta excepcional) e ganharam força 20 anos depois com Alfred Hitchcock, que batizou a ferramenta como whodunit (quem é o culpado?). A diferença é que os bons filmes do gênero vêm acompanhados de uma história competente, na qual o desfecho é o grand finale e não mera desculpa para sua existência.
E se o final sofrível de Amigo oculto, algo que qualquer fãs do gênero consegue adivinhar lá pela metade do filme, é a grande desculpa para a existência do filme, pra que assisti-lo?
Talvez só para dar risada com a última cena, que joga a última pá de cal sobre o filme na desesperada tentativa de deixar um gancho - outra mania que empesteia o cinema - para uma possível continuação.