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Os Irmãos Grimm | Crítica

<i>Os Irmãos Grimm</i>

06.10.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H19

Os Irmãos Grimm
The Brothers Grimm

EUA, 2005 - 118 min
Aventura/Comédia

Direção: Terry Gilliam
Roteiro: Ehren Kruger

Elenco: Matt Damon, Heath Ledger, Mackenzie Crook, Richard Ridings, Peter Stormare, Julian Bleach, Bruce MacEwen, Jonathan Pryce, Denisa Vokurkova, Martin Sventlik, Jan Unger, Laura Greenwood, Lena Headey, Monica Bellucci, Josef Vajnar, Petr Vrsek

Os irmãos Grimm (The Brothers Grimm, 2005) é um dos filmes mais legais do ano. Fato! Terry Gilliam, mesmo quando está trabalhando para uma superprodução de estúdio (nada contra a prostituição esporádica!) e fora de seu universo de obras surrealistas, oníricas e totalmente autorais, consegue criar filmes inteligentes, contestadores e - principalmente - divertidos.

Mas para apreciar o filme é necessário expurgar-se das bobageiras em cartaz. Gilliam exige um olhar distinto. Seu humor, mesmo o pastelão, é mais refinado e incisivo que o besteirol da vez. Se ele acha que dá pra fazer graça com um sujeito cortado ao meio, irá fazê-lo. E dane-se a censura!

Sem ter estréias no cinema desde 1998, quando filmou Medo e delírio em Las Vegas, o cineasta passou os últimos anos sofrendo com seu The man who killed Dom Quixote. O projeto fracassou por fatores diversos - e eles incluem coisas tão distintas quanto o clima, o exército e os burocratas de companhias seguradoras - e nunca conseguiu ser concluído. Precisando de dinheiro para retomá-lo, Gilliam aceitou a missão de dirigir Os irmãos Grimm. Mesmo um tanto ranheta, já que deixou claro todo o tempo que estava ali apenas pelo pagamento, o ex-Monty Python parece ter se divertido no final, pois o filme não dá qualquer pista desse desinteresse. Pelo contrário, resulta digno de figurar ao lado de qualquer produção anterior do cineasta.

Mas a qualidade do filme também deve ser atribuída a Ehren Krueger, o roteirista. O texto é bastante inventivo, reunindo aventura e comédia na dose certa, algo que ele já havia conseguido com Piratas do Caribe: A maldição do Pérola Negra. No entanto, duvido muito que o filme seria tão interessante com um diretor diferente, já que traços marcantes do trabalho de Terry Gilliam pipocam ao longo de toda a fita. Uma seqüência, por exemplo, faz lembrar o bizarro Jabberwocky, filme que ele dirigiu em 1977.

A opção por Gilliam é muito bem-vinda. Qualquer outro, mais submisso aos produtores, deixaria o filme com cara de produção da Disney (o texto de Krueger poderia descambar facilmente a isso), o que ajudaria a reforçar a idéia criada por Walt Disney que as obras dos Grimm são aquelas fábulas fofinhas que vemos nos desenhos da empresa. O toque do cineasta ajuda a recuperar um pouco da aura sombria dos textos originais dos escritores.

A história mostra Heath Ledger e Matt Damon como Wilhelm e Jacob Grimm, os famosos escritores que registraram em papel lendas e contos da tradição oral no século 19. Mas não se trata de uma cinebiografia. O filme parte da premissa que os dois eram trambiqueiros que vagavam de vila em vila pelo interior da Alemanha vendendo seus serviços de "eliminação de criaturas". Apoiando-se nas crenças dos camponeses, eles armavam encenações realistas com bruxas e trolls para depois cobrarem suas taxas de exorcismo, livrando os vilarejos de tais pestes sobrenaturais. Todavia, sua farsa é comprometida quando os franceses - na época, os exércitos de Napoleão ocupava a Alemanha - forçam a dupla a investigar outros vigaristas em atividade numa região remota. O que ninguém desconfia é que trata-se de uma bruxa de verdade, cujos poderes servirão de inspiração para as obras pelas quais os Grimm serão imortalizados.

Ledger e Damon vivem os personagens com sua competência habitual. Mas dois atores roubam a cena. Jonathan Pryce, o contador alado de Brazil - O filme, está impagável como o general francês que cuida do território ocupado. Além dele, Peter Stormare, um dos sujeitos mais versáteis do cinema, arranca gargalhadas como o sádico torturador italiano Cavaldi. Monica Bellucci, pena, mal aparece, mas está linda e... hmm... recheada como sempre na pele da bruxa malvada.

Tecnicamente, a produção também é um desbunde. Gilliam pensa grande, um quadro por vez. Cenários realistas, monstros fantásticos, ação competente e engraçada nos levam a imaginar como seria se Gilliam fosse reconhecido como o gênio que é e tivesse um grande orçamento, desses que dão pra qualquer diretor de videoclipes, para continuar a fazer seus filmes autorais... mas não tem jeito. Irmãos Grimm foi um fracasso nos Estados Unidos. Vai ver eles não gostaram de assistir a um exército invasor como o vilão da história...

Nota do Crítico
Ótimo