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Reencarnação | Crítica

<i>Reencarnação</i>

24.03.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H17

Reencarnação
Birth
EUA,
2004
Drama - 100 min.

Direção: Jonathan Glazer
Roteiro: Milo Addica, Jean-Claude Carrière e Jonathan Glazer

Elenco: Nicole Kidman, Cameron Bright, Danny Huston, Lauren Bacall, Arliss Howard, Anne Heche, Peter Stormare, Ted Levine, Cara Seymour, Alison Elliott, Zoe Caldwell, Milo Addica, Novella Nelson

Um sujeito corre pelo Central Park em neve enquanto surgem os créditos iniciais do filme, embalados por uma música suave. A seqüência dura uma eternidade... ele corre, corre, corre... até que o público flutua numa espécie de torpor hipnótico. Mas ao passar por baixo de um arco de pedra, o corredor - agora só uma silhueta - pára, põe a mão no peito e morre, derrubando a audiência de seu estado alfa.

A seqüência inicial de Reencarnação (Birth, 2004), do competente Jonathan Glazer (Sexy Beast), prenuncia o tom da produção, assinada por Milo Addica (A última ceia) e Jean-Claude Carrière (colaborador de Luis Buñuel). Cadenciado como um metrônomo, o drama é pontuado por pouquíssimos momentos de emoção pronunciada, preferindo apoiar-se na criação de um clima de tensão, algo extremamente favorecido pela fotografia em tons beges fabricada por Harris Savides.

O nome do sujeito que morreu é Sean. Uma década após seu falecimento, a viúva Anna (Nicole Kidman, com cabelos curtíssimos e ruivos) prepara-se para seu segundo casamento. Ela e seu noivo, Joseph (Danny Huston), vivem num enorme apartamento no Upper East Side, área nobilíssima de Nova York, onde estão dando a festa para anunciar seu noivado. Tudo parecia perfeito, até que surge (ou ressurge) Sean (Cameron Bright), um menino de 10 anos de idade que insiste em afirmar que é o marido falecido de Anna. A revelação, claro, desestabiliza toda a vida do casal, muito a contragosto da matriarca da família (Lauren Bacall). Mas estaria o menino falando a verdade? Tudo indica que sim, já que ele conhece em detalhes informações que só o verdadeiro Sean poderia saber.

O jovem Bright (O enviado) e Kidman têm atuações milimetricamente controladas, que favorecem o clima realista da história e casam perfeitamente com a atmosfera criada pelo diretor. Ao final, o filme funciona harmoniosamente bem, o que é algo curioso se observarmos seu resultado mundial.

Fracasso em todos os mercados onde foi lançado, o filme não merecia tamanho desprezo. Foi prejudicado pela polêmica ocorrida durante a sua primeira sessão, realizada no Festival de Veneza em setembro de 2004. Nela, a película foi recebida com frieza e alguns críticos deixaram a sala no meio da projeção. Algumas vaias também irromperam da platéia. A razão do comportamente exarcerbado do público é uma cena em que Kidman divide uma banheira com o garoto. A seqüência mais constrange do que choca, mas aos olhos do público puritano deve ter parecido uma orgia pedófila.

Além disso, a trama exige uma certa inteligência para tapar os buracos e entender tudo o que aconteceu, algo a que a maioria preguiçosa dos espectadores certamente não se dispõe. Impossível deixar de imaginar que tudo isso seria muito diferente se o menino se revelasse ao final da projeção a aterrorizante criança fantasma da vez.

Nota do Crítico
Bom