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Jogos Vorazes | Crítica

Adaptação do romance de Suzanne Collins não se desvia da contestação

22.03.2012, às 17H05.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

Os fãs frequentemente reclamam quando estúdios e mídia tentam vender novas franquias como "a mania que vai substituir Crepúsculo", ou "o próximo Harry Potter". A comparação, porém, é lógica no que diz respeito à estrutura. A máquina hollywoodiana sabe embalar apenas determinados tipos de produtos - daí certos filmes, que não se enquadram muito bem em gêneros conhecidos, terem dificuldade de execução e distribuição - e qualquer adaptação de grande orçamento de obra infanto-juvenil, como é o caso de Jogos Vorazes (Hunger Games, 2012), cairá nos processos conhecidos da indústria, desejosa do próximo grande sucesso de bilheteria.

Jogos Vorazes

Jogos Vorazes

Jogos Vorazes

Jogos Vorazes

A comparação é injusta, no entanto, quando analisamos o conteúdo de obras tão distintas. De todas essas grandes franquias recentes, a primeira adaptação da trilogia literária de Suzanne Collins é a que tem conteúdo mais contestador, com inspirações em grandes obras distópicas como Admirável Mundo Novo, 1984 e, nos próximos livros, até Fahreinheit 451. Discussões sobre a autoridade, culto a celebridades, obediência, poder e controle estão em pauta na história que se passa nas ruínas futuristas da América do Norte, dividida em uma capital e 12 distritos.

Na trama, depois de uma tentativa de revolução, décadas antes, a Capital passou a exigir de cada distrito um tributo na forma de dois jovens - um garoto e uma garota - entre 12 e 18 anos, para competir no reality show de sobrevivência que dá nome ao filme. Eles devem enfrentar outros 22 concorrentes até a morte, em uma arena controlada pelo governo. O vencedor garante para seu distrito um bônus em suprimentos e regalias pelo próximo ano. A trama acompanha uma dessas jovens, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), adolescente de 16 anos que se oferece para lutar no lugar da irmã, sorteada pelo distrito.

Ainda que guarde semelhanças também com Battle Royale, filme hiperviolento japonês - mais especificamente a batalha entre jovens até a morte -, a adaptação de Jogos Vorazes (que, diferente do livro, abandona o foco exclusivo em Katniss e revela os bastidores do controle governamental) distancia-se de qualquer comparação recente pelos questionamentos e por não usar o espetáculo como fetiche. Afinal, não é empolgante ver o embate dos jovens na arena, mesmo que alguns deles, os mais aptos, tenham se oferecido para estar ali e desejem as glórias do combate. Os oponentes de Katniss, assim, não são os demais competidores, mas as forças por trás dos jogos. O diretor Gary Ross (Seabiscuit) opta até por um estilo de câmera e edição nas cenas de ação que se desvia elegantemente da barbárie, dando vislumbres dela, mas tirando das cenas o impacto gráfico que poderia torná-las fetichistas (e, obviamente, tornam o filme comercialmente viável em termos de classificação indicativa).

No centro de tudo, Jennifer Lawrence está à altura do desafio. Depois de excelentes atuações em filmes como X-Men Primeira Classe, Inverno da Alma e Like Crazy (infelizmente ainda inédito por aqui), a atriz traz Katniss à vida com o equilíbrio perfeito de fragilidade e determinação. E ela está cercada por ótimos nomes, como Stanley Tucci, Wes Bentley, Woody Harrelson, Toby Jones, Elizabeth Banks e Donald Sutherland. A única contratação infeliz foi a do músico Lenny Kravitz, incapaz de atuar, para um dos papeis mais importantes fora do combate, o do figurinista Cinna.

Até no obrigatório romance o filme vai bem, já que o interesse dos personagens dá margem a questionamentos. Estaria Peeta Mellark (Josh Hutcherson), o companheiro de distrito de Katniss nos jogos, fingindo sua afeição ou seu interesse é verdadeiro? Estaria Katniss sendo usada? Em tempos de lições de submissão professoradas por vampiros e lobisomens, ver uma personagem feminina forte - seja portando um arco e flecha ou suas ideias - protagonizando um filme de grande público jovem, faz pensar que nem tudo está perdido.

Nota do Crítico
Ótimo