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Jovens Adultos | Crítica

Criadores de Juno mostram Charlize Theron linda e bagaceira

05.04.2012, às 19H19.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

Infelizmente não dá para escolher onde você nasceu. A partir da adolescência, porém, o controle de sua vida começa lentamente a ficar mais e mais na sua mão. Salvo algumas exceções, as pessoas podem escolher o que farão de suas vidas a partir deste ponto. É nesta época - e com a desculpa perfeita de que o melhor curso da faculdade "coincidentemente" fica longe da cidade onde moram os pais - que muita gente arruma as malas e vai para outra cidade, sem jamais olhar para trás.

Jovens Adultos

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É esta a história de Mavis Gary (Charlize Theron), uma escritora que saiu de sua cidadezinha, no interior de Minnesota, em direção à "cidade grande". Agora vive em Minneapolis e trabalha como ghost writer de uma série de livros para adolescentes cuja febre já passou e foi cancelada. Resta apenas a publicação do último volume e o editor está no seu pé para que ela entregue logo o desfecho da história.

Enquanto enrola, ao invés de escrever, Mavis abre seu e-mail e vê que recebeu uma mensagem de seu antigo namorado do colégio. Ele acabou de ganhar uma filha e a convida para o batismo da menina. O convite é genérico e certamente foi enviado para várias pessoas, mas ela encara aquilo como algo pessoal, joga meia dúzia de roupas na mala, pega seu cachorro e a fita cassete dos dias em que os dois eram um casal e cai na estrada ouvindo "The Concept", do Teenage Fanclub, em loop. Sua missão: reatar a relação dos dias em que ela era a Rainha do Baile e ele o quarterback do time da escola.

Embora este conceito faça muito mais sentido para a cultura estadunidense, onde ser o mais popular é também status de sucesso e as pessoas saem de casa e só voltam nos Dias de Ação de Graças, o filme também pode ecoar nas mentes de quem nasceu em uma cidade pequena de qualquer lugar do mundo, se encheu daquilo e daquelas pessoas e foi morar em um lugar onde as coisas não se resumem a se casar, ter filhos e passar as noites vendo televisão. Ao sair de sua cidade natal, Mavis estava ao mesmo tempo enterrando seu passado e abrindo novos horizontes, buscando uma felicidade que ela não via ali. Mas o filme mostra que, sim, existe felicidade naquele estilo de vida - como também existe mediocridade em ficar morando em um lugar que você não gosta apenas porque tem medo de sair dali.

Neste ponto, a parceria entre a roteirista Diablo Cody e o cineasta Jason Reitman, que haviam trabalhado juntos em Juno, se mostra novamente bastante certeira. O texto dela revela o lado humano dos personagens, que acertam e erram como nós, enquanto a direção dele faz o resto, colocando as peças nos lugares certos, para nos fazer pensar nas coisas e ver naquele microcosmos uma realidade mais próxima da nossa do que imaginaríamos no começo.

O resto fica por conta dos atores, e aí Charlize Theron mostra que pode ser linda e "bagaceira" com a mesma intensidade, com direito a momentos de total entrega, como no karaokê dentro do carro. Sua personagem passa por uma crise - com o divórcio e a encruzilhada profissional - e precisa de uma mudança. Mas ao voltar para o local onde cresceu e encontrar os fantasmas de seu passado, ela se lembra porque saiu dali - enquanto nós vemos como ela se tornou aquela mulher.

Jovens Adultos (Young Adult) é daqueles filmes difíceis de classificar. O mais próximo seria dramédia, a mistura de drama com comédia, mas ele é mais do que isso quando passa a estudar a sociedade e as pessoas. Ele mostra que o mundo é muito maior do que aquela cidadezinha do interior. Ou aquele trabalho chato que você só atura porque acha que não há nada mais a fazer. A verdade é que sempre há, pois a felicidade não está no que passou, mas no que está por vir. Afinal, cada um é feliz de um jeito. Ou somos todos sempre infelizes.

Nota do Crítico
Ótimo