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Filmes

Crítica

Com roteiro raso, Mãe X Androides desperdiça tema promissor

Mattson Tomlin se preocupa com estética dentro do orçamento e esquece de dar profundidade à jornada

12.01.2022, às 11H57.
Atualizada em 13.01.2022, ÀS 11H19

Mais uma vez nos deparamos com um molde de filme distópico que tinha tudo para dar certo, mas deixa o espectador frustrado com a pequenez do roteiro e as escolhas confusas da direção. Em sua estreia como diretor, Mattson Tomlin (co-roteirista do novo Batman) tenta fazer de Mãe X Androides, lançado no Brasil pela Netflix, um thriller de ficção científica que une a maternidade na juventude e a luta pela sobrevivência em meio a uma guerra contra robôs assassinos. Os temas, por si só, prometem, mas não conseguem se fundir de modo satisfatório e perdem oportunidades de tornar a história envolvente. 

A trama gira em torno de Georgia (Chloë Grace Moretz) e Sam (Algee Smith, que interpreta Chris McKay em Euphoria), casal  que descobre a gravidez em um momento delicado da vida. Juntos, eles tentam sobreviver enquanto a raça humana é ameaçada por uma classe de robôs domésticos que se revoltam nessa sociedade não tão distante. 

Vale pontuar que esse arremedo de Terminator tenta navegar pela classe dos filmes de baixo orçamento, o que explica algumas decisões da direção, mas não serve como desculpa para a precariedade. Logo de início, quando nos deparamos com Georgia na reta final da gestação, iniciando sua viagem pelas florestas com seu namorado, o longa não pontua porque os personagens esperariam até o pior momento da gravidez para fugir do extermínio. Outro recurso pobre que Tomlin usa como artifício são os apagões e cortes de cena em que se propõe um clímax, que acabam por empurrar o espectador adiante na história sem saber ao certo como chegamos ali. 

Algumas decisões são de praxe, porém inteligentes, para projetos pequenos, como a ambientação em florestas, planos mais fechados, filmagem tremida e sem foco em momentos que exigiriam mais orçamento para a ação. Mas o mais importante em bons filmes de sci-fi, sejam caros ou baratos, Tomlin não almeja: a reflexão por trás. O longa se projeta tão literal nesse sentido, que não dá abertura sequer para interpretações mais densas. Os diálogos, quando existem, são sem sentido, se não repetitivos, e pouco se entende da real mensagem que o filme quer passar. Tomlin, também roteirista, acaba demonstrando que sua única preocupação era carregar os personagens de um ponto a outro, sem levar em conta motivos, dificuldades particulares e anseios dessas pessoas. 

O mínimo de consistência na construção dos protagonistas é colocado de lado por conveniência, quando nada, por exemplo, estabelece que Georgia arriscaria sua vida e a de seu filho pela vida do seu namorado, desconectando-se da construção de mãe forte e protetora. A história poderia ter uma virada muito interessante se focada no drama de uma jovem grávida lutando no fim do mundo, mas pouco se usa desse diferencial para enriquecer os conflitos.

Não se pode negar, mesmo com os perrengues de roteiro, que a atuação de Chloë Moretz prende e carrega boa parte do que há de bom no longa, com experiência em correr e sobreviver ao fim do mundo em A 5ª Onda. Se focada na personagem feminina, a experiência pode ser até agradável, embora seja difícil isolar os outros elementos. A atriz reage de maneira competente às peripécias do diretor, muda o percurso e nos faz lembrar do que realmente o filme se trata em diversos momentos. Emotivo e sensível, o desenvolvimento da protagonista poderia ser a guinada que faltava em uma história batida. 

Se era esperado algo como o enredo do game Detroit: Become Human ou a trama do episódio “Metalhead” da quarta temporada Black Mirror, não será dessa vez. Mãe X Androides é o resultado de um diretor inexperiente que não soube modular drama e ação, e que tenta justificar os 110 minutos em cima das primeiras páginas do roteiro sem prestar atenção na jornada. Com potencial para muito mais, desta vez, os androides pifaram.  

Nota do Crítico
Regular