Malévola: Dona do Mal/Disney/Divulgação

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Crítica

Malévola: Dona do Mal

Atrizes tentam sustentar sequência desnecessária, mas o que rouba a cena é o roteiro pobre

16.10.2019, às 15H43.

Quando Malévola se tornou uma das maiores bilheterias de 2014, ficou claro que a Disney não demoraria para entregar uma sequência. O inevitável lançamento, no entanto, certamente não seria fruto de necessidade, e sim parte de uma tática bem clara do estúdio de lucrar o máximo possível com sucessos do passado. Com um roteiro amarradinho e um revisionismo bem-vindo, Malévola não precisava de uma sequência, muito menos uma que daria mais espaço para sua personagem mais sem sal, a Aurora (Elle Fanning). Por isso, Malévola: Dona do Mal já tinha tudo para falhar; o que não estava claro é quão longe a produção poderia ir no caminho errado.

Malévola 2 lida com o casamento de Aurora com o Príncipe Phillip (Harris Dickinson) e introduz diversos novos personagens à saga, desde a família do jovem, o Rei John (Robert Lindsay) e a sua dissimulada esposa, Rainha Ingrid (Michelle Pfeiffer), a outros seres da mesma espécie de Malévola (Angelina Jolie), como Borra (Ed Skrein) e Conall (Chiwetel Ejiofor). Na trama, quando conflitos surgem entre a personagem-título e a família do Príncipe, Aurora e sua madrinha seguem rumos distintos.

Um dos erros mais básicos de Malévola: Dona do Mal é a reversão de diversos aprendizados estabelecidos por seu antecessor. Não apenas Aurora realmente se apaixonou pelo primeiro homem que conheceu – algo que não havia sido aprofundado, mas certamente fez parte de uma moral de que era cedo demais para se apaixonar - como Malévola é retratada, diversas vezes, como se tivesse uma natureza má. No início do filme, a personagem é vista treinando um sorriso, como se tivesse passado a vida inteira sem saber o que é ser alegre. A piada até encaixa, já que é complementada por Diaval (Sam Riley) o coadjuvante que leva o humor do filme nas costas, mas é inevitável o sentimento de que algo ali arruína o que aprendemos no primeiro longa. Como se não bastasse, o desfecho de Malévola 2 contradiz as regras da maldição nas quais seu anterior se baseou.

Tudo isso poderia passar batido tivesse o filme as mesmas boas intenções que o primeiro, mas a lição de Malévola: Dona do Mal nunca fica clara, e por isso, muito menos o motivo de sua existência. A trama não preenche as quase duas horas de filme e, apesar de tentar se sustentar em imagens fantásticas, o filme perde brilho rápido demais. O desequilíbrio entre trama e cenas de ação é descarado, traduzindo um despreparo de Joachim Rønning para a direção. Existe uma vontade clara de criar uma guerra épica na tela, algo que destoa completamente de um conto de fadas voltado ao público infantil. Ainda mais, o filme gasta tão pouco tempo se aprofundando em seus personagens que as vítimas do conflito não chegam perto de ressoar no público do modo que pretende.

O que tenta salvar Malévola: Dona do Mal são suas atrizes. Tanto Elle Fanning quanto Michelle Pfeiffer mostram um comprometimento com seus papéis muito maiores do que a produção merece. Acompanhadas por Angelina Jolie, que segue ótima em seu papel (apesar de apagada pela falta de novidade), o trio de atrizes está acima de Malévola 2, ao lado de Riley, que acerta no alívio cômico. Outra novidade é a jovem atriz Jenn Murray, que funciona bem como a malvada e caricata discípula de Ingrid. Por outro lado, completando os desperdícios do filme, Chiwetel Ejiofor está perdido em um papel pequeno e sem propósito. Da parte técnica, o único elemento digno de atenção é o figurino, que poderia até ser citado no Oscar. Mas nem isso chega perto de salvar a produção.

O sentimento deixado por Malévola: Dona do Mal é mais um apreço pelas qualidades do primeiro filme do que qualquer legado próprio. Enquanto o filme se debate buscando um sentido de existência, o que ele passa é um compadecimento pela boa intenção do primeiro Malévola, no qual havia um significado maior envolvendo traumas e reputações. Sem trazer nada de novo, e ainda prejudicando a herança do primeiro, Malévola: Dona do Mal causa uma nova – mas já familiar - agonia em relação às sequências e remakes da Disney. 

Nota do Crítico
Ruim