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Mar em Fúria | Crítica

Clooney faz em cena o que Gregory Peck, com todo seu talento, levou anos para fazer

29.08.2000, às 00H00.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 01H03

No último final de semana, assisti a um belo exemplo de metonímia. Metonímia é um daqueles palavrões gramaticais que aprendemos no ginásio e que nunca sabemos bem para que servem. Pois não é que, neste final de semana, George Clooney me fez entender o que significa essa figura de linguagem.

Mar em Fúria

Mar em Fúria

Existem filmes que valem por uma única cena. Isso é típico daquelas produções repetitivas de vingança ou beijo na boca que só se sustentam pelo carisma de suas estrelas. Esse, porém, não é caso de Mar em Fúria. Ainda que ele também se sustente por uma única cena.

A fita parecia perfeita para o meu domingo. Sou fã do Clooney. Adoro filmes de aventura. Além do mais, gosto de água. Mas acabei me deparando com algo mais do que chuva, galãs e maresia (favor não esquecer a Diane Lane, que, quarentona, ficou ainda mais linda) .

Mar em fúria é todo baseado numa grande seqüência: a luta contra uma onda gigante. Uau! Mas o que há de mais nisto&qt& Simples! Há algo que o cinema não vê todo dia. Há atores em cena. Quatro ótimos coadjuvantes - Mark Wahlberg (um dos melhores astros da geração jovem anos 90-2000), John C. Reilly (com visual à la Brutus), William Fitchner e John Hawkes. E é claro, há o Clooney.

Ele, que um dia fez as hipocondríacas de Plantão Médico desmaiarem, é a alma de Mar em Fúria. O filme está longe de ser tão espetacular quanto seu trailer. Wolgfang Petersen estava com sua boa mão pesada. Misturou dramas desnecessários demais para pouca ação. Ou melhor, para muito Clooney.

Se você, leitor, estiver se perguntando porque enrolo tanto para explicar o porquê de ele estar tão bem, eu tenho uma boa desculpa. São muitas as referências que compõem seu capitão Billy Tyne. É lógico que Ahab, de Moby Dick (do Hermman Melville) é a primeira delas. Só que, em vez de baleias, o inimigo é uma onda gigante.

E algo mais...

Seu capitão não é movido pela vingança, como no livro de Melville, mas sim pela redenção. Perdedor de carteira assinada, ele encontra na possibilidade remota de derrotar o mar bravio um caminho para inspirar seu homens. Cada grito seu, cada músculo contra o choque das águas é um exemplo do desespero; dor de um homem que se dá conta de suas fraquezas; de sua pequenez ante a suas limitações. Pequenez forçada sabe-se lá com que propósito.

Despido das glórias dos papéis anteriores, o ator enfatiza a esperança de um homem que perdeu todas as batalhas. Leia-se: mulher, filhas, respeito próprio e dos outros e mais uma lista quilométrica que, na vida real, levaria muitos ao suicídio.

Clooney faz em cena o que Gregory Peck, com todo seu talento, levou anos para fazer. Construir um protagonista galgado somente na virilidade; sem beleza e sem ser chato (como Peck sempre acabava sendo). Ponto para o astro, que volta a dividir a tela com Wahlberg em 2001 na superprodução Ocean's Eleven, de Steven Soderbergh, refilmagem de um clássico dos anos 60, com Frank Sinatra e seu Rat Pack.

Nota do Crítico
Bom