Cena de Mouse Trap - A Diversão Agora é Outra (Reprodução)

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Crítica

Terror do Mickey assassino, Mouse Trap erra referências e decepciona até no gore

Apesar de alguma competência técnica e personagens assistíveis, novo trash não convence

14.11.2024, às 10H45.

Lá pela metade de Mouse Trap - A Diversão Agora é Outra, um dos policiais que está questionando a nossa final girl brinca que a história contada por ela - e especialmente uma subtrama romântica entre dois outros personagens - parece tirada de um filme slasher m*rda dos anos 1990. E, quer saber? A brincadeira metaficcional do diálogo até poderia funcionar como um sinal da galhofa à qual Mouse Trap está disposto a se entregar… se o roteiro de Simon Phillips fosse, de fato, estruturado da forma como o personagem aponta. Acontece que, da forma como está, Mouse Trap não tem nada de Pânico, Lenda Urbana, Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado ou qualquer outro título da mesma era que o espectador possa resgatar da memória.

O parentesco do filme, ao contrário, é muito mais próximo cronologicamente. Assim como Ursinho Pooh: Sangue e Mel ou A Maldição de Cinderela, trata-se de uma exploração de baixo orçamento de uma propriedade intelectual do domínio público, que segue muito do código de produção capenga que rege seus companheiros de subgênero. E dá-lhe vilão pobremente caracterizado (a sua aproximação com o Mickey Mouse de Steamboat Willie, curta-metragem que caiu em domínio público este ano, acontece só por uma infeliz máscara de látex, colocada por cima de um traje de hóquei genérico), perseguições curtas e editadas sem nenhum senso de movimento ou urgência, cortes safados para esconder os efeitos práticos sangrentos que o orçamento não permitiu realizar, e por aí vai.

Caso abraçasse esse movimento caça-níqueis do qual faz parte, o filme até poderia encontrar seu lugar no contínuo pop do horror classe-Z. Mas, como aquele diálogo com o policial deixa claro, o roteirista Phillips e o diretor Jamie Bailey têm outras ambições e, dentro delas, falham miseravelmente. Posicionando-se como uma tentativa de rever ou reeditar os chavões do slasher noventista, Mouse Trap coloca nos personagens (nas vítimas, melhor dizer) o peso de ser, preeminentemente, a fonte de envolvimento emocional e entretenimento do longa. E os arquétipos até se atualizam um pouco aqui, do bully que perde a disputa pela garota para o nerd à loira burra que sobrevive mais do que todo mundo - mas as pessoas que povoam a trama de Phillips são assistíveis, nunca memoráveis.

O mesmo vale para a condução de Bailey por trás das câmeras, ao menos nos momentos fora da carnificina. A ambientação do filme, dentro de um fliperama (o aluguel do cenário deve ter ocupado pelo menos 80% do orçamento da produção), ajuda o diretor a contornar a incompetência rígida de seu elenco amador para criar uma dinâmica convincente de grupo de amigos dentro dos absurdos da trama. É claro que tudo isso voa pela janela quando, talvez diante do fim de suas reservas monetárias, Mouse Trap resolve abandonar sua história pela metade, ensaiando uma reviravolta sem pé nem cabeça e deixando pontas soltas por todo lado - quebrando mais uma regra do slasher noventista, que se apoiava muito na força do plot twist com a revelação da identidade do assassino.

É um final que encapsula bem o principal revés de Mouse Trap: não a falta de dinheiro, mas a falta de impulso criativo. No campo do trash, afinal, impulso criativo é tudo. É ele quem revela as oportunidades de humor que se escondem na falta de recursos, que incentiva os artistas a encontrar paralelos entre suas histórias e aquelas que os inspiraram. O desajuste entre as referências que Mouse Trap declara no diálogo e aquelas que ele demonstra na tela denunciam, acima de tudo, a inexistência dessa vontade de criar.

Nota do Crítico
Ruim