Não se Mexa foi divulgado como "um filme produzido por Sam Raimi". Logo, é natural que a qualidade dos seus trabalhos, seja como diretor ou produtor, entre na expectativa da audiência. A premissa tem a simplicidade instigante da grife Raimi: uma moça com problemas na família se vê entre a vida e a morte, quando encontra um homem gentil que a convence de seguir viva; o que ela não sabe nesse contrato faustiano é que ele é um assassino que injeta nela um veneno que a paralisa antes de ele consumar um crime.
A construção inicial de Não se Mexa é convincente; Kelsey Chow consegue transmitir de forma paciente e profunda a dor que a protagonista sente, e a montagem, sem artifícios exagerados, leva o espectador a entender como a depressão leva a jovem à situação retratada. O mesmo ritmo segue com a chegada do psicopata vivido por Finn Wittrock, que nunca deixa dúvidas de ser o antagonista, mas cumpre bem o papel de vilão previsível que thrillers assim pedem.
Do momento da fuga até a injeção que deveria moldar a trama, o filme funciona bem, traçando a expectativa necessária e o ambiente para o suspense agoniante que virá. O problema vem quando Não se Mexa decide que, ao invés de ser sobre a permissão principal e sobre a interação entre os dois personagens, é necessário expandir a trama para pessoas diferentes e ao menos um punhado de situações que acabam por diminuir a força do que se construiu no início. E de repente, o que parecia uma boa proposta se torna só mais um jogo de adivinhação entre pessoas que já sabem o que está acontecendo, esvaziando todo o suspense.
É justo comentar que essa mudança acontece por uma clara intenção de mostrar a superação da vítima em casos de depressão, porém não é a linha que o filme consegue de fato construir. Ao longo de toda a história, por mais que os sinais sobre os problemas dos dois protagonistas sejam pincelados, eles acabam sendo um ponto de frustração para o clima de suspense criado, assim como o clima de suspense se torna uma frustração para a discussão sobre depressão. De toda forma, Não se Mexa consegue trazer bons momentos - uma pena que eles fiquem escassos em meio a tantas situações aleatórias em uma história que precisava de tão pouco para funcionar.