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Narco Cultura | Crítica

Documentário expõe com sensacionalismo as desigualdades do narcotráfico na fronteira EUA-México

21.10.2014, às 14H23.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

O ponto mais forte do documentário Narco Cultura, de Shaul Schwarz, é a licença que o diretor conseguiu para acompanhar, em detalhes, o dia a dia de seus personagens. Essa licença, porém, gera um problema: quando a câmera tem permissão para registrar tudo, de corpos mutilados e consumo de drogas a desabafos chorosos, fica difícil saber a hora de parar de gravar.

narco cultura

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A Narco Cultura é um fenômeno que tem crescido com a disputa territorial do narcotráfico no México, que desde 2006 gera mortos exponencialmente em cidades como Juárez, na fronteira com El Paso, no Texas. Enquanto El Paso tem uma bem sucedida muralha que impede imigrantes ilegais e hoje é uma das cidades mais seguras dos EUA, Juárez, acuada pelos cartéis do Sul do México que sobem o país à força para colar na fronteira, é um dos lugares mais perigosos do planeta.

O filme segue de perto dois homens: um perito da criminalística de Juárez e um cantor de narco corridos ("rap de traficante", em tradução grosseira), que é o termo usado para designar as músicas regionais feitas (ou encomendadas) em homenagem aos traficantes mexicanos. O cantor, integrante do grupo Bukanas de Culiacán, vive em Los Angeles, onde a Narco Cultura lota casas de shows. O sonho dele é conhecer o México, e especificamente a cidade de Culiacán, para compor letras "com gírias mexicanas de verdade". Já o perito perdeu três companheiros de trabalho em questão de semanas - e considera se mudar com a namorada para o Texas.

Esse trânsito é o motor do filme. Schwarz mostra como as relações estabelecidas pelo tráfico entre os dois países independem de peões como o perito (que reconhece que é só um "catador de cápsulas" de balas, como o chamam) ou o cantor (que não é muito mais do que um canal para as histórias ficcionalizadas dos traficantes, os "Robin Hoods modernos" na imaginação dos adolescentes latinos dos EUA). Restam aos dois as analogias e as ironias: o perito, por exemplo, precisa trabalhar mascarado para não ser morto, enquanto o cantor só busca a notoriedade gangsta do "american way".

É também quando corta de um cenário para outro, quando refaz o trânsito, que Schwarz mostra que não tem muita sutileza com o material: ele filma uma festa de narco corridos em El Paso, por exemplo, com a banda posando de bandidagem com um lança-foguetes no palco, e em seguida corta seco para um cadáver carbonizado ou alvejado em Juárez. Obviamente as duas coisas estão relacionadas, mas ao expor as pessoas, seus entrevistados - e os mortos - o filme traça uma relação sensacionalista de causa e efeito que parece mais interessada no denuncismo, como um programa policial de TV, do que em iluminar a questão, de fato.

A escolha por filmar as ruas em tilt-shift (efeito que coloca o centro do quadro tão em foco que os objetos ficam parecendo miniaturas) é o resumo das intenções de Schwarz: o mundo se divide entre os culpados - ou seja, todos aqueles que foram capturados pela câmera em um show de corridos, em estado de embriaguez ou de euforia - e todas as pequenas vítimas anônimas que o filme miniaturiza. Isso só contribui para vilanizar os envolvidos, o que por consequência reforça a imagem de anti-heróis que os traficantes têm com os jovens na Narco Cultura.

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Nota do Crítico
Regular