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Crítica

O Destino de Uma Nação | Crítica

Gary Oldman mostra uma entrega completa em filme com enredo engenhoso

15.09.2017, às 16H19.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Dizer que Gary Oldman se transforma para dar lugar a Winston Churchill em O Destino de Uma Nação (Darkest Hour) é uma redução. Entrega é a palavra mais apropriada pela naturalidade com que o Primeiro Ministro inglês surge no filme de Joe Wright.

É em um momento definitivo da Segunda Guerra Mundial que os talentos de Oldman, Wright e do roteirista Anthony McCarten convergem em um filme de expressão visual e enredo engenhoso. A primeira cena - com a câmera partindo do topo da sala e descendo gradualmente para acompanhar a assembleia que tirou Neville Chamberlain e colocou Churchill no poder - determina como será a abordagem dos fatos históricos: perspectiva antes de realismo. É uma estratégia estética, que cria atmosfera por ângulos, luzes, velocidade e movimento de câmera e cores, e narrativa, com personagens posicionados para revelar todos os lados da história.

A jovem secretária (Lily James) é a primeira peça. Olhos do povo, ela descobre o polêmico político em um breu profundo, iluminado pela chama do fósforo que acendia seu charuto. É a entrada do filme na intimidade do poder, acompanhada também por sua esposa Clementine (Kristin Scott Thomas). Nos bastidores, Halifax (Stephen Dillane) e o Rei George VI (Ben Mendelsohn) são a oposição e a aliança relutante em tempos de guerra. Como as engrenagens dos relógios presentes em cada canto para marcar a urgência do momento de quase ruína do Império Britânico, as relações em torno de Churchill são precisas, usadas como ferramentas para que Oldman seja completamente o biografado, com gritos e sussurros.

A forma como Wright segue a todos pelos cenários contribui para a noção de movimento e ponto de vista da narrativa. Os ambientes não são fechados em si, sempre fazem parte de algo maior. Para chegar a uma sala é preciso passar por outra, bem como a Operação Dínamo (a mesma retratada no Dunkirk de Christopher Nolan, responsável por mudar o curso da Segunda Guerra Mundial) passou por muitas decisões difíceis até a sua conclusão.

O Destino de Uma Nação segue sempre em frente em uma tensão de contagem regressiva. Diálogos eloquentes evitam que conversas políticas e estratégicas sejam enfadonhas, enquanto seu protagonista se revela além das polêmicas, naturalmente romantizado pela ficção, mas extremamente humano. É um filme que não se limita por suas ambições e nem tem medo de entreter. Consciente, não se contenta em usar a atuação de Oldman como base, trabalha para engrandecê-la a cada cena por uma soma de habilidades - atuação, direção, roteiro - cujo produto não é apenas um retrato único de Churchill, mas de um momento-chave da história.

Nota do Crítico
Excelente!