Por mais complexo que seja o truque, o grande segredo para que ele funcione é um só: fazer a audiência prestar atenção em uma coisa, enquanto o que realmente importa acontece debaixo da manga, às escondidas. Esta é a artimanha dos grandes mágicos e também dos grandes cineastas - principalmente os que se aventuram pelos thrillers.
Christopher Nolan talvez não saiba serrar mulheres ao meio, mas a cada novo filme consegue tirar de sua cartola muito mais do que um comedor-de-cenouras. Tem sido assim desde que lançou Amnésia (2000), o projeto que catapultou seu nome ao ponto de ser o escolhido para dirigir a volta do Cavaleiro das Trevas aos cinemas, em Batman Begins (2005).
Porém, antes do retorno do defensor de Gotham City, Christopher desenvolveu com seu irmão Jonathan uma adaptação do livro The Prestige, de Christopher Priest. Insatisfeitos com o que haviam conseguido até então, o projeto foi temporariamente arquivado. Ao saber da existência do filme que colocaria frente a frente dois mágicos rivais na Londres da virada do século 19 para o 20, Christian Bale, o próprio Batman, disse ao cineasta que queria participar da brincadeira. A ele se juntaram Michael Caine, que interpreta o mordomo Alfred na saga do morcegão, o Wolverine Hugh Jackman e a cada vez mais arroz-de-festa Scarlett Johanson, para ficar apenas nos personagens mais importantes.
A história toda é contada de forma não linear, despejando pistas aqui e ali, sem deixar espaço para o espectador pensar muito - como fazem os bons ilusionistas. Porém, todos os truques e mágicas são apenas fumaça, escondendo algo muito maior e mais denso. O verdadeiro tema deste suspense é a rivalidade cega entre dois antigos parceiros que acabam se tornando inimigos mortais. O que aconteceu para eles chegarem ao ponto de se odiar tanto, de nutrir tanta inveja um pelo outro? Até onde vai o orgulho de não aceitar uma derrota?
Em vez de responder às perguntas, os irmãos Nolan vão aumentando as dúvidas ao ponto de ficar quase impossível saber o que é real, o que é mágica e o que está além de tudo isso. Quem chega para acrescentar toques de ciência à trama e complicar ainda mais a história são o cientista sérvio Nikola Tesla (único personagem real da história, que viveu de 1856 a 1943), interpretado pelo não menos excêntrico músico David Bowie, e seu assistente (Andy Gollum/King Kong Serkis). A participação dos dois é rápida, porém marcante. O mesmo não se pode dizer de Scarlett Johanson. No papel de uma ajudante de palco, ela aparece e some da história como pombos em meio a lenços de seda - sem deixar saudade. Ela é apenas mais uma vítima da empolgante e imprevisível guerra de vaidades travada entre Robert Angier (Jackman) e Alfred Borden (Bale), que consome qualquer um ao seu redor. Nem mesmo Cutter (Caine), o engenheiro mágico que ajudou a torná-los astros, sabe de que lado fica.
E esta gangorra não pára de se mexer, cada hora pendendo para um lado, sem deixar claro quem, afinal, é o mágico do bem e quem é o do mal. Quem vai terminar por cima, claro, é um segredo. E este, nem Mister M sabe.