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Crítica

Crítica: O Lutador

A emocionante redenção de Mickey "The Ram" Rourke

02.02.2009, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H44

São raras as vezes em um filme me conquista o suficiente para receber nota máxima. Em cada quinze lançamentos, talvez um consiga - apesar de um ou outro defeito menor - obter uma classificação acima de todas as outras. Para O Lutador (The Wrestler, 2008) eu gostaria de poder ir além da nota máxima. O novo filme de Darren Aronofsky é uma das seletas obras que levarei comigo a vida toda.

o lutador

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Aronofsky, aliás, não é estranho a essa minha lista pessoal de paixões cinematográficas avassaladoras. Requiem Para Um Sonho e Pi também a integram. Mas se esses me assombram cada vez que os assisto, O Lutador me emociona e me faz ter vontade de aplaudir de pé. Um sujeito atrás de mim no cinema, menos preocupado em passar vergonha, o fez. O invejei. As palmas ficaram presas - mas as disparo aqui.

O filme adapta o livro que Robert Siegel escreveu sobre Randy "The Ram" Robinson, um astro ficcional da luta-livre dos anos 1980.

Vinte anos depois de seu auge, The Ram (Mickey Rourke) segue fazendo a única coisa que sabe: lutar. Mas os tempos são outros, ele envelheceu, os fãs são poucos e o dinheiro é escasso. Mesmo assim essa espécie de tio-avô bombado dos lutadores mais jovens segue se apresentando. Até o enfarto, depois de uma luta...

Forçado pelos médicos a interromper sua longeva carreira, ele começa a trabalhar no balcão de frios de um supermercado. Enquanto isso, tenta fazer as pazes com sua filha (Evan Rachel Wood) e procura algum alento romântico com uma stripper (Marisa Tomei, ousada e excelente). Mas surge, então, a proposta para uma luta com o seu maior rival, o Aiatolá (Ernest Miller), e fica difícil para The Ram resistir...

Não se trata, como a premissa pode dar a entender, de um típico filme de superação. The Ram não tem qualquer interesse em superar-se. Quer apenas continuar fazendo o que faz melhor... golpear pessoas e ser golpeado enquanto veste colante. É curioso notar como essa motivação não é muito diferente das experiências pessoais de Mickey Rourke. Também um astro oitentista, Rourke desapareceu durante anos, relegado a pontas ou projetos medíocres. Uma oportunidade de retorno surgiu em Sin City, mas não decolou. A redenção chega agora com, em que personagem, que se autointitula "um velho pedaço moído de carne", e ator se confundem em sua mútua redenção.

Rourke está maravilhoso como The Ram e o roteiro tem construção de personagem irretocável, visual e psicológica. O lutador/ator encanta em sua entrega ao filme tanto nos ringues quanto fora deles. As cenas de lutas são profissionais e de um realismo fora do comum (Rourke chegou a cortar-se de verdade nas cenas, de propósito), algo que pode até chocar os mais sensíveis, especialmente a cena da luta contra o Necrobutcher. Para mim, o choque veio mesmo é nas cenas mais cotidianas, como no primeiro e metafórico dia de Ram no balcão de frios, seu bem-humorado contato com a clientela. Chorar durante uma cena cômica - e não me refiro a chorar de rir - foi algo inédito para mim.

Com uma interpretação tão poderosa, Aronofsky só poderia mesmo ter optado pela câmera na mão, naturalista. Ele, literalmente, precisa sair da frente de Rourke em determinadas cenas. A direção voyeuristica, porém, torna-se explosiva durante as lutas, apoiada pela excelente trilha sonora, que mistura clássicos do heavy rock com as músicas incidentais tocadas por Slash e compostas por Clint Mansell.

Por baixo das calças de lycra, dos cabelos compridos e do sangue dos ferimentos, O Lutador esconde uma tragicômica discussão: você é definido pelo que você faz? The Ram não tem a resposta a essa pergunta - mas limita-se a oferecer sua contundente opinião, uma tão fulminante quanto seu golpe voador com cotovelada. Doa a quem doer.

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Nota do Crítico
Excelente!