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Crítica

Ódiquê? | Crítica

Um retrato nada otimista da juventude carioca

03.05.2007, às 16H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H24

"Ah, a juventude de hoje em dia. Pra onde esse mundo vai? Porque, no meu tempo, os jovens não viviam fumando maconha e falando palavrão desse jeito."

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É esse tipo de indignação de ponto de táxi que impregna Ódiquê?, primeiro longa-metragem de Felipe Joffily. Não é, porém, um catastrofismo de cima para baixo, nostálgico. O "no meu tempo" é o agora. Como o paulistano Cama de Gato, o filme carioca é um retrato pessimista pintado por quem compartilha os vinte anos. A diferença é o sotaque.

O diretor Joffily estava chegando aos 30 quando rodou o filme há oito anos. Na história, três amigos (Cauã Reymond, Dudu Azevedo e Alexandre Moretzsohn) se reúnem para planejar a viagem que eles farão no Carnaval para Arraial d'Ajuda, na Bahia. O problema é que um deles foi escalado para trabalhar no feriado e decidiu pedir demissão. Como conseguir dinheiro? Com uma arma emprestada, um carro importado do amigo playboy e muito "tóxico" na cabeça.

Durante uma noite os três se aventurarão pela criminalidade, arrumando confusão em festa, "tirando onda" com "os malandrinho", etc. A idéia é denunciar ao público-alvo, o próprio jovem, tudo o que ele tem feito de errado em sua rotina transviada. De preferência, expondo-o ao constrangimento: em uma cena o personagem de Cauã Reymond aponta uma arma e cospe no garoto flanelinha, negro e deficiente físico.

A manobra do ultraje - não basta reprovar os atos dos personagens, é preciso fazer com que o espectador não tenha dúvidas na hora de reprovar o personagem - frequentemente se mascara por coragem. Filme peitudo, que não tem medo de cuspir na cara da gente, é issaê! O caso é que nem todo mundo precisa apanhar para ouvir o que um filme diz.

Esse é o problema dos denuncismos feitos por e para os jovens, sobre os jovens. Na ambição de falar aos seus, o filme não julga só os personagens, julga também o público. A cena do flanelinha é sintomática - o cuspe na cara é o nosso castigo. Em tempo: "ódiquê" é corruptela para "ódio de quê?". Não custa perguntar, então. O filme nos odeia por quê?

Nota do Crítico
Ruim