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Os Agentes do Destino | Crítica

Philip K. Dick mais uma vez tem sua obra subvertida

12.05.2011, às 18H29.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 09H06

Os Agentes do Destino (Adjustment Bureau, 2011) adapta o conto The Adjustment Team (1954), de Philip K. Dick (1928-1982), para as telas. Como é tradição na cinematografia que tem o escritor como base, porém, o filme usa apenas uma sombra da premissa da obra original. Para Hollywood, o autor, que escrevia influenciado por drogas e via com enorme pessimismo o futuro, é excelente fonte de ideias, mas o desenvolvimento delas é sempre amainado em prol da abrangência de público.

Agentes do Destino

Agentes do Destino

Agentes do Destino

No caso do filme de George Nolfi, estreia do produtor e roteirista na direção, essa proposta fica ainda mais óbvia. Nunca no cinema uma ideia criada por K. Dick pareceu tão preocupada em agradar. Os Agentes do Destino é muito mais romance adocicado do que ficção científica paranoica.

O filme começa com a campanha do congressista David Norris (Matt Damon). Ao entrar em seu escritório uma manhã, depois de um encontro casual e promissor com a bela bailaria Elise Sellas (Emily Blunt), ele descobre seus colegas paralisados por um grupo de engravatados de chapéu. Começa então uma corrida entre o político e esses "agentes do destino", que são categóricos ao afirmar: ele jamais poderá entrar em contato com a mulher novamente, já que jamais deveria tê-la encontrado.

Ainda que tenha, como esperado, ação e correria, o foco do filme é mesmo na tentativa de relação entre David e Elise e a subsequente discussão sobre predestinação e amor. Não é um filme para puristas de ficção científica e muito menos para os fãs de K. Dick, mas uma sci-fi para ver em casal, abrangente e inofensiva.

Damon e Blunt funcionam relativamente bem juntos e convencem, apesar das atuações sem surpresas, como o casal que desafia as ordens dessas entidades em nome do futuro. John Slattery, o chefe dos agentes, e Anthony Mackie, o agente que ajuda a dupla (que no conto é um cachorro falante), porém, estão muito abaixo da qualidade que entregaram em Mad Men e Guerra ao Terror, respectivamente. A atuação meio "neutra" pode até ser imposição do papel - tais agentes não são bons ou maus, afinal - mas fica difícil sentir alguma urgência na perseguição se você não sabe se os perseguidores vão querer te matar ou te dar um abraço.

Apesar disso, há algumas boas cenas, como a perseguição usando os portais de atalho, que brinca com a percepção de espaço e a claustrofobia dos espaços exíguos de Manhattan - passando de maneira chocante de um corredor apertado para o enorme vão do estádio dos Yankees.

Se tivesse permanecido como o conto, misterioso e instigante, sem soluções e com muitas perguntas e estranheza, o filme certamente mereceria mais discussões e análises. No entanto, as explicações ao final, que buscam entregar uma romântica satisfação ao espectador, são péssimas. Quanto mais explica e romantiza a curiosa e paranoica obra original, menos interessante Os Agentes do Destino se torna.

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Os Agentes do Destino | Cinemas e Horários

Nota do Crítico
Regular