Filmes

Crítica

Os Estranhos - Caçada Noturna | Crítica

Continuação tenta resgatar terror de invasão domiciliar com filme pouco criativo ou sequer violento

07.06.2018, às 18H24.
Atualizada em 08.06.2018, ÀS 01H03

Além do impacto visual, o cinema de terror conta com diversos elementos feitos sob medida para atiçar os medos reais da sociedade, e não há lugar melhor para observar isso do que no subgênero de Invasão Domiciliar. A ideia de ter seu lar - representação absoluta de um espaço seguro, pessoal e confortável - invadido por uma ameaça letal é capaz de fazer até o mais cético tremer.

Entre os vários exemplares, um dos mais populares e frequentemente citados é o perturbador Os Estranhos (2008), que chocou o público ao conduzir com ritmo angustiante o assassinato de um casal por três maníacos inconsequentes. Agora, a quase-sequência Caçada Noturna vêm para tentar reproduzir o mesmo horror, uma década depois.

A trama acompanha uma família pouco funcional que se reúne para deixar Kinsey (Bailee Madison), a filha mais nova, em um internato no interior dos Estados Unidos. Pouco antes de concluir a viagem de ida, eles decidem passar a noite em um parque de trailers - onde então são atacados pelo trio de psicopatas do longa original, dando início a uma luta pela sobrevivência madrugada adentro.

Apesar de ser um conceito simples o bastante para justificar a violência, o filme perde tempo até demais tentando contextualizar e aprofundar as futuras vítimas. A primeira meia hora é inteiramente dedicada a "aprofundar-se" nos protagonistas - mesmo que não exista muito para desenvolver: Kinsey usa rebeldia para lidar com um sentimento de desprezo, o casal de pais Cindy (Christina Hendricks) e Mike (Martin Henderson) torce para que a partida da filha reaqueça o casamento morno e Luke (Lewis Pullman), o filho mais velho, apenas está bodeado de ter de acompanhar a família na jornada. Esses dramas e relações conflitantes pouco importam para a trama, e as atuações medíocres e pouco convincentes também fazem pouco para ajudar.

Inevitavelmente, o que chama a atenção em Caçada Noturna é a perseguição implacável dos assassinos. A sequência não esconde sua intenção em resgatar conceitos do filme original, ao ponto de beirar à cópia. Ainda que esse se aproxime mais do slasher do que Invasão Domiciliar, toda a estrutura é repetida: da isca que a assassina usa para incomodar a família antes do massacre, passando até pelos agressores escondidos nas sombras e fora de foco, até o motivo pelo qual toda a matança está acontecendo.

Ainda assim, a continuação deixa a desejar ao conduzir tudo sem sensibilidade, sem o desejo de criar tensão verdadeira e - talvez o crime mais absurdo - pegar leve na violência. Conceitualmente, Os Estranhos é um verdadeiro show de horrores, capaz de explorar o quão longe a brutalidade humana pode ir. Na prática, o longa entrega mortes seguras, pouco gráficas e decepcionantes. Em um filme com potencial para chocar, fazer muito menos do que isso é uma oportunidade perdida.

Em certo ponto, Caçada Noturna passa a mostrar sua personalidade e até fagulhas de carisma. A mudança ocorre a partir de uma luta entre um dos membros da família com o homem mascarado na piscina, ao som de "Total Eclipse of the Heart", de Bonnie Tyler. Banhada em neon, a cena é bem dirigida e respinga humor negro. O que ocorre daí em diante segura a tensão e entrega momentos de genuíno desespero.

Sutil, a linguagem visual também intriga amantes de terror. O diretor Johannes Roberts (Medo Profundo) mira nos primeiros exemplares de slasher do fim da década de 1970, reproduzindo os closes exagerados e até reproduzindo a icônica conclusão de O Massacre da Serra-Elétrica (1974), de Tobe Hooper. Infelizmente, quando a personalidade do filme só passa a dar as caras nos minutos finais, isso significa que já é tarde demais.

Os Estranhos: Caçada Noturna é um caso estranho. A sequência mira em resgatar um clássico moderno, mas faz pouco para realmente soprar vida nova em uma possível franquia ao repetir a estrutura original de forma mais leve e menos subversiva - sendo a brutalidade, física e psicológica, os grandes responsáveis pelo sucesso em primeiro lugar. Sendo assim, o longa serve como um bom exemplo de que algumas coisas ficam melhor no passado do que feitas sem considerável evolução.

Nota do Crítico
Regular