É muito interessante que o apelo para todos os públicos que os executivos de Hollywood tanto procuram hoje seja alcançado com sucesso justamente em um filme "infantil". Os Muppets (The Muppets, 2011) transcende esse rótulo e mostra-se um filme com potencial para agradar meninos, meninas, homens e mulheres de todas as idades.
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Os famosos personagens de feltro criados por Jim Henson nos anos 1950 foram atualizados para o século 21 com muita inteligência pelos roteiristas Jason Segel e Nicholas Stoller, modernizando mas sem deixar de fora elementos tradicionais, como algumas músicas e piadas. A jornada dos Muppets na trama é análoga à trajetória da franquia na vida real, em que um fã tenta trazer os personagens de volta ao estrelato (na trama, o garoto de feltro e espuma Walter; na realidade, Jason Segel, que procurou a Disney para desenvolver o projeto). Assim, é estabelecida uma dinâmica constante de quebra da quarta parede e metalinguagem, que rendem ótimas piadas. Por exemplo, se você acha que cenas musicais são bregas e absurdas, os Muppets concordam e tiram sarro de si mesmos a cada número. Há ainda tiradas com o orçamento do filme, com técnicas de edição ("Vamos economizar tempo usando uma montagem?", propõe o Robô Anos 80) e a divertida viagem "via mapa".
Tudo começa quando Walter visita Los Angeles, ansioso por realizar seu maior sonho: conhecer os estúdios e o teatro dos Muppets, já que ele se identifica mais com os personagens que vê na TV do que com as pessoas de sua cidade. Para sua grande decepção, além de encontrar o local totalmente abandonado, Walter acaba ouvindo o plano secreto de Tex Richman (Chris Cooper), executivo que planeja destruir o teatro para extrair o petróleo que há sob o solo. Começa assim a grande aventura de Walter, seu irmão Gary (Segel) e Mary (Amy Adams) para reunir a trupe de fantoches.
O sapo Kermit (ex-Caco) é mostrado pela primeira vez no filme como uma figura solitária e reclusa, reticente em encarar seus erros do passado e distante de todos os seus amigos Muppets. Mas uma rápida cena musical, em que pinturas de Fozzie, Animal, Gonzo, Rowlf e Miss Piggy ganham vida, convence o sapo de que tudo aquilo era especial de mais para se deixar para trás. Somos então apresentados ao paradeiro atual de cada Muppet: o urso Fozzie se tornou o vocalista da banda cópia The Moopets; Gonzo é um grande executivo dos esgotos e encanamentos; Animal está fazendo tratamento de controle de raiva e foi condicionado a não chegar mais perto de uma bateria; e Miss Piggy agora é editora da Vogue Paris - com direito à secretária arrogante de O Diabo Veste Prada, em uma ponta de Emily Blunt.
Além de celebrar a própria "Muppetssência" (há mais de 120 Muppets diferentes!), o filme é uma jornada de aceitação e superação. Como qualquer filme para crianças, há mensagens edificantes, transmitidas por Kermit em seus discursos motivacionais para a trupe, ensinando que mesmo quando tudo parece que vai dar errado, há uma saída e esperança. É uma pena que o roteiro fique mais concentrado em Kermit, Miss Piggy, Walter e os dois personagens humanos, deixando os outros Muppets subaproveitados. As várias pontas de celebridades também poderiam ser melhor trabalhadas. Ainda assim, Os Muppets é um filme muito divertido, de roteiro simples e muito bem-executado.
É ótimo ver os Muppets voltando com tudo e com tantas auto-referências e sátiras ao mercado do entretenimento. Em determinado momento um divertido gráfico de executivo de Hollywood mostra o quão longe os fantoches estão do epicentro da cultura pop. Que este filme os devolva a uma posição mais central, portanto!
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