Mais conhecido por seu trabalho como ator, Michael Keaton retorna à direção 15 anos depois de fazer a sua estreia na função com o desconhecido Má Companhia. Em Pacto de Redenção, o astro volta a atuar como a principal estrela e diretor do longa, mas o resultado final se provou um retorno pouco inspirado.
Há conceitos e uma ideia interessante em Pacto de Redenção, no qual Michael Keaton se dirige como um assassino de aluguel (assim como em Má Companhia) com uma forma rara e de rápida escalada de demência. Sua falta de ritmo e diálogos pouco inspirados, no entanto, minam o que poderia ser a construção de um thriller interessantíssimo sobre um matador que tenta organizar sua vida para que sua “despedida” do mundo seja menos problemática.
Conhecemos John Knox (Keaton), um assassino de aluguel experiente, quando ele está começando a sentir os sintomas da doença. Em um jantar com seu parceiro Muncie (Ray McKinnon), ele pede uma xícara de café à garçonete, esquecendo que há uma bem na sua frente. Quando os dois se reúnem novamente para realizar um trabalho, Knox sofre um lapso de memória e acaba matando Muncie e outra vítima inocente junto com seu alvo.
Sua situação torna-se ainda mais difícil quando, após receber o triste diagnóstico, seu filho Miles (James Marsden) ressurge após anos afastado para lhe pedir ajuda. Miles assassinou a sangue frio o estuprador de sua filha adolescente, mas não tem experiência alguma em como ocultar um cadáver. Restou a ele engolir o orgulho e ir até seu pai em busca de auxílio.
A ideia de unir duas subtramas (o avanço da doença e o plano de Knox para ajudar Miles) poderia potencializar o ritmo de Pacto de Redenção, mas o roteiro escrito por Michael Poirier não consegue balancear ambas de forma convincente. Embora seja interessante ver como a demência de Knox avança e atrapalha o seu dia a dia, tudo o que envolve a as investigações do assassinato de Muncie e do estuprador é pouco interessante. Keaton não se priva de dar explicações demais sobre como cada caso pode ser desvendado, e mesmo quando seu plano aparenta funcionar, não estamos tão mergulhados nele para nos importarmos.
Pacto de Redenção se aproveita de elementos de filmes policiais do cinema noir para criar um quebra-cabeça em torno dos planos de Knox, mas o filme parece nunca decolar de fato. Keaton acaba sobrecarregado por suas próprias escolhas: resta a Knox, um cara mau com uma inteligência acima da média, ser o grande (e talvez único) charme do longa. O retrato banal de um assassino inteligente já é batido, mas o ator dá ao personagem um charme excêntrico que é perfurado por sua crescente confusão. Ainda assim, conforme a mente de Knox se deteriora, o ator cai em uma encenação exagerada de perda de memória, onde ele parece mais confuso com suas falas do que aparenta estar sofrendo com demência.
O diretor se aproveita de um enredo inteligente, mas o filme poderia ser mais divertido se o tivesse sido concebido como uma comédia de humor duvidoso. Keaton segue uma direção na qual prioriza o tom sombrio apenas para acentuar algumas escolhas narrativas - estas, infelizmente, nem sempre tão boas. Ainda há uma faísca emocional no fim de Pacto de Redenção que dá sutileza aos tropeços encontrados pelo caminho, mas não é o bastante para deixar o retorno do ator à direção um pouco mais interessante.