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Pânico 4 | Crítica

A década das novas regras não muda o espírito sado-cômico de Ghostface

14.04.2011, às 10H47.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H19

Antes de morrer em Pânico 3, Jenny McCarthy reclama que não tem como decorar as suas falas se elas são reescritas a cada 15 minutos. A essa altura da série do roteirista Kevin Williamson e do diretor Wes Craven, as indefinições do roteiro já tinham virado piada interna. Em entrevistas, Courteney Cox diz que o único tranquilo de fazer mesmo, com texto fechado antes das filmagens, foi o primeiro Pânico.

panico 4

panico 4

panico 4

Dá pra perceber que uma produção passou por mudanças de última hora quando as fotos de divulgação mostram cenas que não estão no filme (como esta, esta e esta). No caso de Pânico 4 (Scream 4), Williamson brigou com os produtores, foi brevemente substituído por Ehren Kruger (que havia dado o tom mais apatetado do terceiro filme) e mesmo Craven escreveu algumas partes.

No fim, como por milagre, sempre sai algo coeso. Ainda que seu trabalho tenha sido modificado ao longo de Pânico 4, a volta de Williamson aos roteiros (Kruger assinou o terceiro sozinho) recoloca a franquia no rumo dos dois primeiros: enquanto Craven manipula visualmente as expectativas do terror, o roteirista faz piada metalinguística e - sua especialidade lapidada por anos de Dawson's Creek - escreve diálogos críveis para personagens adolescentes.

De resto, é só questão de tirar a poeira do whodunit, cujas peças têm arranjo mais que conhecido. A trama se passa dez anos depois do terceiro Pânico, com Sidney (Neve Campbell) retornando a Woodsboro para promover um livro de auto-ajuda. A personagem continua naquela chave trágica bem trabalhada no segundo filme. Agora, os adolescentes de Woodsboro a chamam de Anjo da Morte. Eles já assistiram aos sete longas da franquia caça-níquel Stab (os filmes dentro dos filmes) e sabem que ao redor de Sidney todo mundo é esfaqueado em algum momento.

É irônico que toda a campanha de divulgação do filme fale em "nova década e novas regras", porque, no fundo, Pânico não muda em nada. Ghostface continua tendo uma mira péssima - a "facada no ombro", como tudo, é repetida até virar piada autoreferente - e Dewey (David Arquette), que tem uma mira pior, nunca se dá ao trabalho de perseguir o maníaco, embora não esteja mancando mais. Aliás, Arquette visivelmente sofreu com a instabilidade do roteiro. Ele passa meio filme sem saber para onde vai sua viatura.

As tais novas regras só se aplicam ao motif do assassino. Os primeiros filmes faziam graça, diziam que nem todo maníaco precisa de motivos, mas o fato é que a franquia sempre os dá. Talvez o motif de Pânico 4 seja o mais consistente da série - está em sintonia com a "nova década", em que "o sadismo é a nova sanidade", e não parece solto no ar, como o motivo de Micky em Pânico 2.

Sadismo, de qualquer forma, sempre foi elemento essencial na franquia. Craven reinventou o medo em A Hora do Pesadelo, mas a série Pânico lida muito mais com a expectativa do susto - com toda a comicidade que isso implica, neste caso - do que com o medo. Repare, por exemplo, que raramente a câmera nos coloca no ponto de vista subjetivo de Ghostface. É uma das regras do gênero pós-Halloween (aquelas câmeras em primeira pessoa, tremidas atrás do arbusto), mas Craven prefere a câmera objetiva. É o sádico que não se envolve.

No fundo, talvez seja isso que garanta a longevidade da série. É um senso de espetáculo primitivo, universal, atemporal e principalmente inofensivo, como aquelas perseguições de Scooby-Doo no corredor cheio de portas: ficamos só esperando para ver se o maníaco aparece pela da frente, do fundo, ou de ambas. Aliás, a profusão de celulares amplifica esse jogo - talvez seja a contribuição mais significativa da nova década.

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Nota do Crítico
Bom