Mais de 100 anos após sua estreia nos livros infantis de Beatrix Potter, Pedro Coelho chega aos cinemas na adaptação do diretor Will Gluck. Revisitando o cenário bucólico das obras da escritora, o filme leva o coelhinho e seus amigos para o século XXI, misturando live-action e computação gráfica. Porém, com uma narrativa muitas vezes arrastada, não encanta como antes.
Agora, os personagens não têm como grande rival o velho sr. McGregor, mas sim um parente distante dele, Thomas McGregor (Domhnall Gleeson), que herda a propriedade logo no início do filme. Mas, para a sorte dos bichinhos, eles não estão sozinhos. A artista incompreendida Bea (Rose Byrne) os defende sempre que vê alguma injustiça. O único empecilho para os coelhinhos liderados por Pedro é o romance entre sua defensora e seu inimigo, que atrapalhará os planos do grupo de conquistar a horta, mas os ensinará algumas lições.
Embora atualize as clássicas histórias de Potter, o longa traz algumas homenagens, a começar pela cena de abertura. Assim como em A História de Pedro Coelho, lançado em 1902, o filme mostra o coelhinho invadindo a horta do sr. McGregor (Sam Neill) com o objetivo de levar o maior número possível de vegetais. Ele, porém, é pego em flagrante pelo homem e, na fuga, perde sua jaqueta azul. As ilustrações da autora também são referenciadas o tempo todo, ora em cenas específicas do filme, ora nas próprias obras da personagem de Rose Byrne - que não se chama Bea à toa. Ainda assim, o charme do famoso personagem de Potter não foi captado nas telonas. Falta ao filme, sobretudo, timing para as piadas.
O maior exemplo disto é o caso da alergia alimentar. Se por si só o tema não é engraçado, a abordagem do assunto foi insensível e espalhafatosa, mas não só porque chamam a intolerância a amoras do jovem McGregor de “frescura”. O erro mais grave está na construção da situação que, teoricamente, deveria ser cômica. A piada tem uma quebra da quarta parede completamente fora do tom e culmina na execução de um plano dos bichinhos de matar o personagem de Gleeson jogando as frutas na sua pele e boca. O homem, então, é obrigado a correr para aplicar uma dose de adrenalina antes de sofrer uma reação anafilática. Os coelhos riem, mas a situação dificilmente causa risada, só estranhamento e uma resistência para torcer para o protagonista.
Há também uma tentativa de agradar a todos os públicos, mas a adaptação acaba dividida em momentos claramente dedicado para as crianças, cheios de bagunças e trapalhadas do “vilão” de Gleeson, e outros mais voltados para os adultos. Diferentemente de outros filmes do gênero, não há uma unidade nessa junção, somente a impressão de uma colcha de retalhos.
Domhnall Gleeson mais uma vez é colocado para fazer um papel caricato e vilanesco, mas funciona de verdade quando seu personagem entra no modo “comédia romântica”. Byrne, por sua vez, entrega uma performance morna, sem surpreender ou decepcionar, já que a própria personagem não abre margem para muita coisa além disso.
No fundo, o apelo do filme é mais nostálgico, para quem leu as histórias ou assistiu à animação quando criança. Sem ligação emocional, é apenas somente mais uma opção para se distrair.