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Crítica

Pedro Coelho | Crítica

Adaptação do clássico infantil presta algumas homenagens, mas não encanta

31.03.2018, às 12H52.
Atualizada em 01.04.2018, ÀS 05H07

Mais de 100 anos após sua estreia nos livros infantis de Beatrix Potter, Pedro Coelho chega aos cinemas na adaptação do diretor Will Gluck. Revisitando o cenário bucólico das obras da escritora, o filme leva o coelhinho e seus amigos para o século XXI, misturando live-action e computação gráfica. Porém, com uma narrativa muitas vezes arrastada, não encanta como antes.

Agora, os personagens não têm como grande rival o velho sr. McGregor, mas sim um parente distante dele, Thomas McGregor (Domhnall Gleeson), que herda a propriedade logo no início do filme. Mas, para a sorte dos bichinhos, eles não estão sozinhos. A artista incompreendida Bea (Rose Byrne) os defende sempre que vê alguma injustiça. O único empecilho para os coelhinhos liderados por Pedro é o romance entre sua defensora e seu inimigo, que atrapalhará os planos do grupo de conquistar a horta, mas os ensinará algumas lições.

Embora atualize as clássicas histórias de Potter, o longa traz algumas homenagens, a começar pela cena de abertura. Assim como em A História de Pedro Coelho, lançado em 1902, o filme mostra o coelhinho invadindo a horta do sr. McGregor (Sam Neill) com o objetivo de levar o maior número possível de vegetais. Ele, porém, é pego em flagrante pelo homem e, na fuga, perde sua jaqueta azul. As ilustrações da autora também são referenciadas o tempo todo, ora em cenas específicas do filme, ora nas próprias obras da personagem de Rose Byrne - que não se chama Bea à toa. Ainda assim, o charme do famoso personagem de Potter não foi captado nas telonas. Falta ao filme, sobretudo, timing para as piadas.

O maior exemplo disto é o caso da alergia alimentar. Se por si só o tema não é engraçado, a abordagem do assunto foi insensível e espalhafatosa, mas não só porque chamam a intolerância a amoras do jovem McGregor de “frescura”. O erro mais grave está na construção da situação que, teoricamente, deveria ser cômica. A piada tem uma quebra da quarta parede completamente fora do tom e culmina na execução de um plano dos bichinhos de matar o personagem de Gleeson jogando as frutas na sua pele e boca. O homem, então, é obrigado a correr para aplicar uma dose de adrenalina antes de sofrer uma reação anafilática. Os coelhos riem, mas a situação dificilmente causa risada, só estranhamento e uma resistência para torcer para o protagonista.

Há também uma tentativa de agradar a todos os públicos, mas a adaptação acaba dividida em momentos claramente dedicado para as crianças, cheios de bagunças e trapalhadas do “vilão” de Gleeson, e outros mais voltados para os adultos. Diferentemente de outros filmes do gênero, não há uma unidade nessa junção, somente a impressão de uma colcha de retalhos.

Domhnall Gleeson mais uma vez é colocado para fazer um papel caricato e vilanesco, mas funciona de verdade quando seu personagem entra no modo “comédia romântica”. Byrne, por sua vez, entrega uma performance morna, sem surpreender ou decepcionar, já que a própria personagem não abre margem para muita coisa além disso.

No fundo, o apelo do filme é mais nostálgico, para quem leu as histórias ou assistiu à animação quando criança. Sem ligação emocional, é apenas somente mais uma opção para se distrair.

Nota do Crítico
Regular