Piratas do Caribe começou como uma das franquias mais família da Disney e se perdeu ao longo de três sequências. A queda de qualidade, porém, não foi seguida pela bilheteria, que só cresceu. Após um descanso de seis anos, a série volta com A Vingança de Salazar sem o peso dramático dos últimos dois filmes e com um Jack Sparrow visivelmente cansado. A fadiga do personagem e de Johnny Depp está escancarada na tela, mas não prejudica a sessão da tarde descompromissada proposta pelo estúdio. Com ar episódico, esse quinto longa tem um roteiro simplório, cheio de reviravoltas previsíveis, mas com execução honesta.
A decisão de contar uma história do passado de Jack Sparrow dá impressão que o pirata será o centro das atenções. Isso não acontece. Apesar de guiar a a narrativa, ele divide bem a tela com Barbossa (Geoffrey Rush), o vilão Salazar (Javier Bardem) e principalmente com o novo casal protagonista, Carina (Kaya Scodelario) e Henry (Brenton Thwaites). A trama mistura a vingança do oficial espanhol, com uma busca de identidade e redenção pelos dois mais jovens do elenco. Um é o filho rebelde de Will Turner (Orlando Bloom) e a outra é uma jovem cientista que tenta dar o ar feminino à jornada dos piratas.
A grandiosidade das sequências de ação de Vingança são tão contidas quanto a do primeiro filme da série. Um roubo de banco, um ataque com piratas zumbis e a batalha final separam os atos do longa como um breve passeio em um parque de diversões - cada uma delas tem a presença de todos os personagens principais e são situadas em cenários diferentes. Os efeitos continuam de primeira qualidade, mas se não fosse pela boa atuação de Bardem, a tripulação de Salazar poderia ser esquecida no meio de tantos outros inimigos marcantes - Davy Jones (Bill Nighy) continua imbatível.
Além da previsibilidade do roteiro, o maior erro deste novo Piratas é forçar uma conexão com os antecessores. Trazer o senso de um universo ainda maior (como se os outros filmes não tivessem feito suficiente) não agrega ou aumenta o interesse naquele mundo, e sim torna todo e qualquer assunto que fuja do núcleo principal um adereço desnecessário. Isso acontece com a trama de Barbossa e os objetivos sempre fúteis da Marinha Inglesa. Enquanto foca na resolução da revanche de Salazar e nas "trapalhadas" de Sparrow, Vingança se aproxima do primeiro Piratas e funciona.
Em um mar de blockbusters, Piratas do Caribe chega com grife mas sem muita pompa. Os embates são mais simples e até a estrela principal está menos inspirada que o comum. Ainda assim, o filme tem êxito em se ater a uma trama didática, que dá mais atenção às cenas de ação e comédia do que à mitologia em si. Se não será lembrado como o melhor ou pior episódio da série, ao menos pode ser considerado, ao lado do primeiro, o mais honesto deles.