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Por Água Abaixo | Crítica

Leia a crítica do filme do estúdio Aardman

14.12.2006, às 00H00.
Atualizada em 15.12.2023, ÀS 14H48

Quando a Pixar se associou à Disney, nenhuma das duas companhias tinha nada a perder. Assim, a primeira conseguiu uma gigante parceira na distribuição de seus longas, e a outra voltou a injetar qualidade em suas animações. Mas na época em que a casa do Mickey quase deixou a empresa de Steve Jobs sair livre para negociar com outros estúdios, o prejuízo da Disney seria muito maior. A Pixar já havia provado que ainda tem muitos pixels para queimar, enquanto que no reino encantado, Pateta e companhia continuavam derrapando em seus novos projetos.

Alheios a tudo isso, do outro lado do Atlântico, os ingleses da Aardman preferiam ignorar a corrida dos bytes e continuavam brincando de massinha. Ah, mas eles também usam computadores, podem chiar os xiitas. Claro que usam, e não há mal algum nisso. O grande diferencial não são os bonecos fotografados quadro a quadro, mas sim as histórias. Conseguir ver as impressões digitais no focinho de um Gromit apenas acrescenta mais charme a tudo isso.

Por água abaixo (Flushed away, 2006) mantém o mesmo traço de A fuga das galinhas (1999) e Wallace & Gromit - A batalha dos vegetais (2005), mas coloca a Aardman de vez no mundo da Computação Gráfica. Ou não. Afinal, a bem da verdade, os ingleses cuidaram da concepção do longa, deixando para os parrudos computadores da DreamWorks Animation, na Califórnia, o trabalho de transformar aquelas idéias em realidade - mesmo que virtual.

O longa conta uma ótima história que tem aventura, romance e todo o humor inglês em sua excelência. É verão em Londres, época em que todas as famílias vão viajar, deixando a cidade à mercê dos turistas. Assim, o rato de estimação Roddy St. James (dublado por Hugh Jackman) ganha uma enorme montanha de ração e a casa inteira só para ele. À la Toy Story, ele sai da sua gaiola, pega o carro da Barbie e começa a se divertir com os outros brinquedos. A diferença é que ele é o único ser vivo por ali. Até que aparece Sid (Shane Richie), um rato que veio do esgoto londrino. Na tentativa de se livrar da indesejada visita, quem vai por água abaixo é justamente o roedor mauricinho.

O esgoto é uma divertida mini-Londres, com Big Ben, Picadilly Circus, ônibus de dois andares, os guardas que não se mexem e turistas americanos sem noção (com o perdão do pleonasmo). Logo depois das onipresentes lesmas, Roddy conhece outro ser deste submundo, Rita (Kate Winslet). Ela está sendo perseguida por Spike (Andy Serkis) e Alvino (Bill Nighy), dois capangas do Sapão (Ian McKellen) que querem colocar as mãos em uma pedra preciosa que Rita encontrou e escondeu. Claro que no início eles não se dão bem, mas logo entendem que um precisa do outro para sobreviver e ainda salvar todos os ratos que vivem no esgoto de uma catástrofe, que vai acontecer bem no intervalo da final da Copa do Mundo de futebol.

Infelizmente, o público estadunidense, responsável por grande parte das bilheterias mundiais, não viu muita graça na história (futebol? Mas cadê o quarterback?). Como resultado, a cara produção de 143 milhões de dólares rendeu até o início de dezembro pouco mais de 60 milhões de dólares por lá - apesar das críticas positivas. Descontente com o resultado, a Dreamworks já avisou que este foi o último longa que produziu em parceria com a Aardman. Talvez o seu prejuízo não seja tão grande quanto o que teria a Disney ao se livrar da Pixar, mas com esta decisão a empresa que um dia foi de Steven Spielberg joga pela privada uma chance a mais de continuar produzindo animações divertidas e inteligentes. Não vou dizer que eles erraram, mas eu aguardo mais ansiosamente Crood awakening do que Madagascar 2.

Nota do Crítico
Ótimo