A Amblin prosperou com os filmes de Steven Spielberg, que criou a produtora em 1981 durante a produção de E.T. (daí o logotipo com a cena de Elliott voando com a bicicleta). Quando pediu a Spielberg que desse a Super 8 o selo da Amblin, J.J. Abrams tinha em mente evocar temas e uma época bem específicos, quando filhos de lares partidos amadureciam à força de aventuras fantásticas, como os Goonies ou o Marty de De Volta para o Futuro.
super 8
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A nostalgia pode ser uma armadilha, mesmo porque os órfãos funcionais daquela época não existem mais; 30 anos depois o paternalismo e a correção política transformaram crianças em neuróticos precoces, plenos de informação (e consequentemente de preocupações). Em Super 8, informação é o item mais raro. Um menino, Joe (Joel Courtney), perdeu a mãe não sabe por quê, não compreende como seu pai odeia tanto um vizinho, e entende menos ainda quando praticamente todo o exército dos EUA invade sua cidadezinha no Ohio após um acidente de trem que Joe teve o acaso de testemunhar.
Para haver rebeldia é preciso forçar na autoridade (o pai obviamente é policial), e, como Abrams sabe, hoje para estimular curiosidade deve pesar a mão no mistério. Nesse sentido, Super 8 se parece menos com E.T. do que com Tubarão ou o igualmente cinefílico Cloverfield. A criatura que escapou do acidente de trem é um vulto que surge em reflexos na água, encoberto por objetos, remexendo copas de árvores - está escondido, enfim, por todos os cantos do extracampo. Em oposição, a ocupação do exército é absurda; os tanques de guerra preenchem todo o Scope de Super 8, embora mal passem nas ruas apertadas da cidade.
A revelação do monstro e a consumação do potencial bélico encerram o suspense e concedem ao filme uma apoteose de lampejos, raios, fumaça e explosões que lembram as cenas de ação conscientemente exageradas de O Último Grande Herói, outro exemplo de metalinguagem autoreferente para as massas. E aí fica claro, nesse clímax, que Super 8 é um filme de cinefilia não só na sua premissa, não só na reverência à Amblin, mas de ponta a ponta - entrega-se sem medo ao suspense com a mesma disposição com que se entrega, depois, ao filme de ação.
O plano do tanque de guerra atropelando o playground é emblemático, então. Super 8 abraça o cinema de gênero na sua forma mais infantil, como uma criança que encara o perigo não porque é valente, mas porque não tem a medida desse perigo. Uma criança que embora já tenha olheiras de adulto (tremenda sacada de Abrams ao contratar Joel Courtney) ainda enxerga o mundo como se fosse invencível. Que mal pode haver, por exemplo, em levar no pescoço a mordida de uma pequena e bela zumbi de cabelos dourados?
"Eu faço", diz Alice (Elle Fanning) a Joe quando ele vem pedir, de novo, que ela interprete uma zumbi no filme que os garotos estão rodando com a câmera Super 8. Ao filmar essa resposta, Abrams enquadra o rosto de Fanning coberto pela tela da porta da casa, como uma película. Antes disso, na estação de trem, quando Fanning ensaia sua fala, Abrams usa um dos seus famigerados contraluzes (que aqui fazem muito mais sentido que em Star Trek) para "marcar" a imagem e recobri-la de luz. É como se o ato de contracenar, em todos esses momentos, fosse tão sagrado que exigisse um véu.
E é isso que torna Super 8 um autêntico filme apaixonado pelo cinema - que respeita a arte e seus processos mas não tem preconceito com gêneros - e não, meramente, um filme de mimetismo.
Super 8 | Omelete Entrevista J.J. Abrams
Super 8 | Omelete Entrevista Elle Fanning
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