Cena de Tem Alguém na sua Casa, da Netflix (Reprodução)

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Crítica

Tem Alguém na sua Casa é mais esperto que a média dos slashers contemporâneos

Direção de Patrick Brice também brilha em filme surpreendente da Netflix

13.10.2021, às 15H33.

Há algo de distintamente familiar, mas também algo de distintamente novo, em Tem Alguém na sua Casa. O filme da Netflix começa com uma sequência que desfila aptidão estética e tensão, apresentando de cara as credenciais do diretor Patrick Brice, conhecido dos fãs de terror indie pelo trabalho na franquia Creep. É um momento reminiscente das aberturas de Pânico ou Halloween, que prende tanto por brincadeiras conceituais quanto pelo puro suspense logístico de uma perseguição doméstica.

Esses flashbacks são constantes durante a pouco mais de 1h30 de Tem Alguém na sua Casa, mas eles sempre vêm infundidos de algo contemporâneo. A elaboração do ambiente escolar onde se passa a trama, por exemplo, usa estereótipos e dinâmicas tão antigos quanto a própria ficção adolescente - a presidente do conselho escolar “perfeitinha”, mas irritante; o grupo de excluídos que encontra apoio uns nos outros, etc -, mas trabalha com eles diálogos, constrangimentos e relações sociais bastante atuais.

De fato, o roteiro de Henry Gayden (Shazam!), baseado no livro de Stephanie Perkins, está muito sintonizado com as discussões da geração que quer retratar. Na trama, um assassino misterioso começa a matar jovens de uma cidadezinha do Nebraska, revelando logo antes dos crimes os maiores segredos das vítimas - e quase todos são ofensas “canceláveis”, em todo o leque impossivelmente amplo que isso implica, de preconceitos escondidos a agressões e vícios.

Tem Alguém na sua Casa, acima de qualquer coisa, entende as relações de poder envolvidas nessa dinâmica, e dá crédito o bastante aos seus protagonistas para confiar que eles entendam também. Por volta da metade da metragem do filme - e o ponto de virada é dolorosamente óbvio -, o filme abandona o tom debochado e referencial que marca muitos slashers contemporâneos para tentar construir uma história genuína sobre redenção, e sobre como a mentalidade e as atitudes do ofensor têm muito mais a ver com isso do que o perdão de terceiros.

O elenco jovem do filme, por sua vez, se agarra à oportunidade de interpretar personagens tão sólidos em meio a um terror mainstream. A protagonista Sydney Park, toda introspecção e elegância cênica, é quem equilibra dramaticamente o carisma mais elétrico de colegas como Asjha Cooper, Diego Josef e Dale Whibley (este último especialmente empenhado em devorar cenários). Este é um grupo de personagens que parece real o bastante para causar empatia, mas tem traços exagerados o suficiente para ser divertido de assistir.

Tem Alguém na sua Casa funciona melhor se encarado pelo que é: uma história hábil, ainda que não brilhante, sobre aparências enganosas, a dificuldade humana de ver além do próprio umbigo e (por isso mesmo) o ato colossalmente heróico de enxergar de verdade o outro. É um filme que sabe o que você espera quando aperta o play, e que não abre mão de satisfazer suas expectativas, mas faz também o que poucas produções de Hollywood ousam fazer hoje em dia: tenta te dar mais.

Nota do Crítico
Bom